Apesar de o número de adultos tabagistas estar diminuindo entre homens adultos, o uso de tabaco convencional entre as mulheres e de cigarros eletrônicos por jovens está crescendo no Brasil. É o que mostra o boletim info-oncollect, publicado pela Fundação do Câncer nesta quinta (29/8).
A série histórica mostra que houve uma queda na mortalidade por câncer de pulmão em todo o país (-1%), mas um aumento médio de 2% especificamente entre as mulheres. A maior frequência de fumantes está entre os homens (16%), e a região Sul é a que mais tem tabagistas.
A pesquisa também analisou dados que mostram que pelo menos 20% dos adolescentes em idade escolar já experimentaram o cigarro eletrônico, também conhecido como vape. Nesta população, os meninos são maioria entre os que já provaram o produto.
“As estatísticas dos malefícios do uso do vape em relação ao câncer de pulmão terão reflexo daqui a uns vinte anos, já que o câncer de pulmão é uma doença que avança lentamente, mas já há estudos científicos que mostram o aumento dos casos de Evali, uma lesão pulmonar característica ao uso de vape”, alerta o epidemiologista Alfredo Scaff, coordenador do boletim.
Os organizadores do levantamento alertam que o Brasil precisa voltar a fazer campanhas de conscientização contra o tabagismo e fiscalizar fronteiras para combater o contrabando, falsificação e comercialização de cigarros tradicionais e eletrônicos.
O grupo também defende o aumento do imposto sobre os produtos. No Brasil, o custo médio do maço de cigarro é considerado barato, de R$ 9,75. Em outros países, o valor é bem mais alto: em Portugal, o maço custa R$ 33,26; na Alemanha, R$ 48,59; e na Finlândia, R$ 61,93.
“O consumo de cigarros entre adolescentes é preocupante em todas as regiões, com a menor taxa no Nordeste, e a experimentação de vapes é alarmante, especialmente no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A popularização dos cigarros eletrônicos nesse grupo etário reflete o foco principal da estratégia de marketing da indústria da nicotina para substituir uma parte dos usuários atuais adultos que inevitavelmente virão a falecer”, diz o documento.
Tabagismo é doença de crianças
O diretor-executivo da Fundação do Câncer e cirurgião oncológico Luiz Augusto Maltoni alerta que a idade média de iniciação no tabagismo é aos 15 anos. Com a popularização do vape, a situação pode piorar, principalmente entre faixas mais carentes e com menor escolaridade.
“O tabagismo é considerado uma doença pediátrica. Uma publicação do Banco Mundial de 1999, já mostrou que 90% dos tabagistas começam a fumar antes dos 19 anos, com a idade média de iniciação aos 15 anos. Por isso, nosso Movimento também visa levar essa questão para as escolas. Queremos incentivar professores a conversar com seus alunos sobre os malefícios do vape”, explica Maltoni.