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Soja: Vendas da safra 22/23 estão atrasadas no BR e relações de troca elevadas limitam avanço



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Foto: ilustrativa

O volume de negócios com a soja nos últimos dez dias ficou mais contido no mercado brasileiro diante de tanta volatilidade dos futuros da oleaginosa na Bolsa de Chicago e do dólar frente ao real. Como explicou o diretor da Agronegócios Matheus Pereira, em entrevista ao Notícias Agrícolas, a dificuldade de formulação de preços deixou o produtor mais reticente. Esta última semana foi muito intensa para as referências, principalmente por conta da forte influência do arisco mercado financeiro no mercado de commodities agrícolas.

“E isso se deu não por falta de intenção de venda do produtor, mas pela incapacidade de formular preço por parte do vendedor hoje no país. O exportador está mais comedido para a soja, para o milho temos vivido uma campanha de exportação agressiva, em ascendência, e nosso milho hoje é o mais barato do planeta, considerando o frete. Então, a incapacidade da formulação de preço (na soja) tem limitado o volume de negócios”, diz.

No entanto, ainda como relata Pereira, julho e agosto são meses em que a classe produtiva tem muitas despesas, entre a finalização da colheita da segunda safra e a conclusão dos preparativos para a nova safra de verão, o que poderia exigir um movimento de vendas um pouco mais intenso neste período.

“Assim, o produtor se vê um pouco mais acuado agora em tentar realizar negócios, na capacidade de formulação de preços, prazos estendidos de pagamento e com necessidade financeira. Ele se pega agora em uma ‘sinuca de bico’, não sabendo exatamente o que fazer e, na dúvida, vimos os produtores executarem suas vendas com pagamentos mais alongados, por necessidade de caixa”, diz o analista de mercado.

Neste cenário, portanto, a orientação é de que cada vez mais o produtor brasileiro invista e busque garantir suas proteções financeiras. Afinal, a volatilidade dos futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago tende a continuar por mais algumas semanas, com não só o financeiro pesando, mas com o momento sendo de pleno mercado climático nos Estados Unidos.

Somada a isso, há ainda a necessidade de decisão do produtor brasileiro neste momento entre vendas de soja e milho frente não só aos preços, mas também para adequar-se à demanda, às condições logísticas e de necessidade do mercado.

Ainda segundo cálculos da consultoria, há cerca de 75% da safra 2021/22 de soja já comercializada, com aproximadamente 30 a 35 milhões de toneladas para ainda serem vendidas pelos produtores. O volume – que é considerável para este momento depois da quebra que foi registrada nesta temporada – e que se apresenta atrativo para os compradores agora, em especial os importadores.

“A China está pouco comprada para a partir de agosto, setembro, então quando o país visualiza todo esse estoque disponível ainda na mão do produtor e com essa soja barata que temos, vamos virar um canal de concentração dessas compras chinesas na retomada de seu mercado aqui nas Américas”, afirma Matheus Pereira.

SAFRA 2022/23

Para a safra 2022/23, os negócios também estão muito lentos, com cerca de 20% da produção estimada já comprometida, índice que se mostra bem aquém do registrado em anos anteriores. Em outras temporadas,  esse número já estaria acima dos 30%, perto de 35%.

“Estamos muito lentos e o motivo para essa lentidão é porque nos últimos 45 a 60 dias, era o período em que, sazonalmente, os produtores aceleravam estas vendas da safra nova, neste período de transição de semestre. E este ano isso coincidiu, justamente, com a queda acentuada dos preços da soja não só disponível, mas também 2023. Então, a gente tem volumes de venda bem lentos agora”, conclui.

Com a baixa nos preços, as relações de troca para as compras de insumos da nova safra também ficam menos acessíveis e atrativas para o sojicultor. Entre os fertilizantes, embora os principais grupos tenham registrado alguma baixa, os recuos entre os preços da soja neutralizam o movimento, como explica o analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, Jeferson Souza.

“Pela primeira vez, desde meados de março, que vejo preço do MAP e do KCl terminando a semana abaixo de US$1.000 por tonela, custo e frete Brasil. Infelizmente, os preços da soja não contribuem para uma melhora na relação de troca. Mas, uma coisa é certa, a demanda está fazendo o seu papel”, diz.

Souza complementa dizendo que o barter no mercado brasileiro permanece acima dos níveis do mês passado, o que ajuda a justificar o movimento menos acelerado de vendas da soja da nova safra pelos produtores brasileiros neste momento.

Dessa forma, no gráfico abaixo é possível ver que a relação de troca entre a soja 2022/23 – base Paranaguá – se mostra muito acima – na linha verde – em relação à média – na linha roxa – e se comparada aos últimos ciclos.

Gráfico: Jeferson Souza/Agrinvest Commodities

BOLSA DE CHICAGO

Na Bolsa de Chicago, depois de uma semana confusa e muito volátil, os preços fecharam o pregão desta sexta-feira (15) em campo misto. Enquanto o agosto perdeu 5,75 pontos, sendo cotado a US$ 14,66, o novembro subiu 1,25 ponto, terminando a sessão com US$ 13,42 por bushel.

Ao Notícias Agrícolas, o analista Luiz Fernando Gutierrez, da Safras & Mercado, explicou que as dúvidas sobre a área plantada nos Estados Unidos, mais a adversidade do clima no Meio-Oeste americano deixaram o caminhar das cotações ainda mais confuso na CBOT.

Não só na CBOT, mas entre os produtores americanos também. De acordo com analistas e consultores, os agricultores nos EUA mostram agora bastante paciência para avançar em seus negócios com a safra 2022/23, aguardando uma visão mais clara sobre o real tamanho de sua produção frente a uma série de ameaças climáticas que se apresentam agora.



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