Terça-feira, 26 de novembro de 2024 - Email: [email protected]




Reforma tributária: Câmara aprova texto com trava contra aumento de imposto

Proposta extingue cinco impostos, PIS, Cofins, ICMS IPI e ISS, com a criação de três novos: IBS, CBS e Imposto Seletivo; texto vai ao Senado



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Plenário da Câmara durante votação da reforma tributária

Após diversas modificações, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (10) o texto da regulamentação da reforma tributária com o detalhamento de como será o processo de transição do sistema tributário e a implementação do IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que incidirá sobre produtos e serviços. Foram 336 votos favoráveis, 142 contrários e duas abstenções. Entre outros itens, a proposta prevê carne bovina e de frango na cesta básica isenta de impostos e uma “trava” para prevenir o aumento da carga tributária futuramente. O projeto agora será enviado ao Senado, onde passará por uma nova rodada de debates.

Antes de colocar o texto em votação, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que o tema é complexo e que a Casa teve tempo suficiente para debates e amadurecimento da proposta.

“Espero que possamos fazer um debate de alto nível para um assunto que é de vital importância para tirar o Brasil desse manicômio tributário”, afirmou.

O IVA será dividido em dois tributos: a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que vai substituir os impostos federais PIS, Cofins e IPI; e o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), que vai unificar o ICMS (estadual) e ISS (municipal). A transição para o novo sistema será gradual, com plena implementação prevista para 2033.

Arthur Lira (PP-AL) preside sessão na Câmara
Mário Agra/Câmara dos Deputados – 3.7.2024

O texto votado no plenário incorpora mudanças em relação à versão anterior, apresentada na semana passada. No entanto, alguns temas permaneceram iguais. Por exemplo, armas, munições e alimentos ultraprocessados continuaram fora do rol de produtos sujeitos ao Imposto Seletivo, conhecido como “imposto do pecado”.

Durante a discussão no plenário, um grupo propôs aplicar uma sobretaxa sobre armas e munições por meio do Imposto Seletivo, mas a maioria dos parlamentares foi contra a proposta, com 316 votos contrários à taxação das armas e 155 a favor.

Outros pontos do texto foram ajustados. O cashback, ― que será a devolução do imposto pago por famílias de baixa renda —, agora considerará as compras feitas com os CPFs de todos os membros da família, e não apenas do representante principal cadastrado no CadÚnico, como sugeria a versão inicial do texto.

A proposta prevê ainda a devolução de 100% da CBS para energia elétrica, água, esgoto e gás natural; 20% do IBS para os mesmos itens; e 20% da CBS e do IBS para outros produtos.

Entenda os principais pontos do texto

Alíquota: o projeto não define a alíquota dos novos tributos, mas estabelece parâmetros para o cálculo. Estimativas do Ministério da Fazenda preveem uma alíquota total de 26,5% para os tributos, sendo 8,8% para a CBS e 17,7% para o IBS.

Trava contra aumento de impostos: os deputados incluíram no texto uma “trava” para impedir o aumento de impostos. O mecanismo de segurança será acionado caso a alíquota geral do IVA ultrapasse 26,5% a partir de 2033. Com isso, se a alíquota praticada ultrapassar o teto estabelecido, o governo deverá ajustar os impostos para retornar à alíquota padrão. Essa trava cumpre o acordo entre o governo e o Congresso para a votação da reforma tributária, garantindo uma carga tributária neutra, ou seja, sem aumento ou diminuição dos impostos.

Imposto Seletivo: também chamado de “imposto do pecado”, será aplicado sobre produtos prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente. Na versão final do texto, o carvão mineral foi incluído na lista de itens que serão sobretaxados.

O Imposto Seletivo também incidirá sobre:

  • Cigarros
  • Bebidas alcoólicas
  • Bebidas açucaradas
  • Embarcações e aeronaves
  • Extração de minério de ferro, petróleo e gás natural
  • Apostas (físicas e online)
  • Carros elétricos

O parecer introduziu mudanças, limitando a alíquota do Imposto Seletivo sobre minérios de ferro a 0,25% e estabelecendo um regime de transição até 2033 para bebidas alcoólicas.

Câmara aprova cesta básica isenta de impostos
Tânia Rêgo/Agência Brasil – Arquivo

Cesta básica: Alimentos in natura ou pouco industrializados vão compor a cesta básica nacional e terão imposto zero: arroz, leite, manteiga, margarina, feijões, raízes e tubérculos, cocos, café, óleo de soja, farinhas de soja, mandioca, milho e trigo, açúcar, massas alimentícias e pão do tipo comum. Também entrou na cesta básica a carne bovina e de frango.

Já a lista de produtos taxados na alíquota reduzida em 60% foi ampliada. Entraram no grupo: extrato de tomate, atum e salmão, suco natural, farinha, óleo de milho e pão de forma.

O projeto prevê que as duas listas poderão ser revisadas a cada cinco anos pelo governo federal.

Imposto zero: o texto prevê que não serão cobrados IBS e CBS de dispositivos médicos; dispositivos de acessibilidade para pessoas com deficiência; medicamentos; produtos de cuidados básicos à saúde menstrual; produtos hortícolas, frutas e ovos; automóveis de passageiros adquiridos por pessoas com deficiência ou com transtorno do espectro autista; automóveis de passageiros adquiridos por motoristas profissionais que destinem o automóvel à utilização na categoria de aluguel (táxi); e serviços prestados por Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação sem fins lucrativos.

Agrotóxicos: o projeto de lei propõe uma redução de 60% na tributação para insumos agropecuários e aquícolas, abrangendo bioinsumos e bioestimulantes. Houve um debate intenso sobre a inclusão dos agrotóxicos no Imposto Seletivo, porém o relator atendeu a uma solicitação da bancada ruralista, que defende a desoneração dos defensivos agrícolas.

Este é o primeiro projeto de regulamentação da reforma tributária, havendo ainda outro projeto de lei complementar em tramitação na Câmara. Com a aprovação pelos deputados, o texto segue para o Senado, onde será submetido a novos debates e negociações. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pretende concluir a votação da matéria ainda este ano.



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