Sexta-feira, 22 de novembro de 2024 - Email: [email protected]




Por que o Brasil ainda importa produtos que poderia produzir internamente?

Brasil alcançou números recordes de exportação de commodities em 2023



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Foto: United Soybean Board

O Brasil alcançou números recordes de exportação de commodities em 2023, consolidando-se como um dos maiores fornecedores globais de produtos como soja, açúcar e milho. No entanto, essa estratégia de exportação massiva levanta questionamentos sobre o desenvolvimento da indústria alimentícia local. Luiz Alberto Gonzatti, CEO da Alibra Ingredientes, alerta para o fenômeno que ele define como “turismo de ingredientes”, criticando a dependência do país de importar ingredientes que poderiam ser produzidos internamente.

Gonzatti destaca que, embora o Brasil possua vantagens competitivas como clima favorável e abundância de recursos naturais, a maior parte do valor agregado das commodities exportadas acaba sendo explorada por outros países. Um exemplo é o processamento da soja: “Exportamos grãos para a Ásia, onde extraem óleo e farelo, além de produtos de alto valor, como a vitamina E, que depois são vendidos de volta para nós”, explica.

O CEO sugere que a falta de transformação local limita a capacidade do Brasil de desenvolver tecnologias e cadeias produtivas mais sofisticadas. “Precisamos desenvolver essa indústria aqui para gerar mais arrecadação e criar empregos qualificados”, defende Gonzatti, ressaltando que esse movimento permitiria ao Brasil ser menos vulnerável às oscilações do comércio exterior.

Para Gonzatti, uma das chaves para superar o “turismo de ingredientes” está na aproximação entre a indústria e as universidades, fomentando o setor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&DI). Ele acredita que a adoção do conceito ESG (Ambiental, Social e Governança) pode ser um diferencial competitivo. “Cuidar do meio ambiente e reduzir a pegada de carbono, utilizando tecnologias limpas, é fundamental para tornar nossa indústria mais sustentável e eficiente”, afirma.

O CEO da Alibra também alerta para a necessidade de investir em cadeias como a láctea, onde o Brasil, mesmo sendo um dos maiores produtores de leite do mundo, ainda depende de importações de proteínas lácteas da Europa, Oceania e Estados Unidos. “Poderíamos produzir esses ingredientes localmente e agregar mais valor aos produtos consumidos aqui”, sugere Gonzatti, ressaltando que a Alibra já trabalha com tecnologias para transformar componentes do leite em insumos de alto valor agregado.

Segundo Gonzatti, criar um “clúster produtivo” que integre universidades, setor privado e órgãos públicos é essencial para desenvolver um ambiente favorável à inovação e à produção local. Ele defende que essa estratégia pode garantir maior autossuficiência e estabilidade econômica. “É um processo que já ocorre em algumas cadeias, mas há muito espaço para expandir e reduzir nossa dependência de importações”, conclui.



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