Se você já teve dificuldades em reduzir a ingestão de carboidratos, como pães e massas, a razão pode estar em uma antiga adaptação genética que ainda influencia nosso organismo hoje.
Uma pesquisa feita pela Universidade de Buffalo e pelo Jackson Laboratory, nos Estados Unidos, indicou que a duplicação de um gene conhecido como AMY1, responsável pela produção da enzima amilase salivar, pode ter ajudado a humanidade a se adaptar a alimentos ricos em amido muito antes do surgimento da agricultura, cerca de 800 mil anos atrás.
“A ideia é que quanto mais genes de amilase você tem, mais amilase você pode produzir e mais amido você pode digerir efetivamente”, explica o professor Omer Gokcumen, do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Buffalo, em comunicado. A amilase é a enzima que decompõe o amido em glicose, além de ser a responsável por dar ao pão seu sabor característico.
Presença do gene AMY1
Os pesquisadores utilizaram uma técnica de sequenciamento de DNA chamada “sequenciamento de leitura longa”, que permitiu um mapeamento mais detalhado da região do gene AMY1.
A equipe analisou o genoma de 68 pessoas, incluindo uma amostra de 45 mil anos da Sibéria, e descobriu que os humanos antigos, que viviam antes mesmo do surgimento da agricultura, já possuíam entre quatro e oito cópias do gene AMY1 por célula, indicando que eles tinham alta capacidade de digerir amido muito antes de começarem a cultivar plantas.
Além disso, o estudo, publicado na revista Science em 17 de outubro, revelou que neandertais também apresentavam duplicações do gene AMY1.
“Isso sugere que o gene pode ter se duplicado pela primeira vez há muito mais tempo do que se pensava anteriormente, antes de humanos e neandertais se separarem”, afirma o pesquisador Kwondo Kim, do Lee Lab no JAX e um dos principais autores do estudo.
Essa duplicação inicial do gene foi um marco importante na evolução da espécie humana, oferecendo uma vantagem para a adaptação ao longo do tempo.
“Depois que ela ocorreu, criando três cópias do gene AMY1 em cada célula, a área do gene relacionada à amilase ficou instável e começou a gerar novas variações”, explica Charikleia Karageorgiou, coautora do estudo.
Com essas descobertas, os pesquisadores acreditam que a capacidade de digerir grandes quantidades de amido foi crucial para a sobrevivência dos nossos ancestrais, ajudando-os a se adaptar a novas dietas conforme migravam para diferentes regiões e ambientes.