Em entrevista para um blog de humor publicado pelo jornal Extra, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirmou que pretende incorporar um genérico do Ozempic na rede pública do Rio de Janeiro.
“Rio vai ser uma cidade que não vai ter mais gordinho, todo mundo vai tomar Ozempic nas clínicas da família”, afirmou o candidato, em tom de deboche.
Conforme decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), a patente da medicação deve cair no ano que vem, o que permitirá que genéricos do Ozempic passem a disputar a mesma fatia de mercado na qual o remédio está estabelecido.
Como Ozempic funciona
O Ozempic tem a semaglutida como princípio ativo. A molécula imita o hormônio GLP-1, que regula o açúcar no sangue e promove saciedade. Quando a patente do Ozempic expirar, outros laboratórios poderão lançar versões genéricas da medicação que, possivelmente, serão mais baratas que o remédio original.
Laboratórios no Brasil e no exterior já estão desenvolvendo suas versões da semaglutida e, até agora, as indústrias chinesas e indianas são as mais avançadas nesse processo. No início de abril, a chinesa Hangzhou Jiuyuan Gene Engineering submeteu às autoridades de seu país o primeiro pedido de aprovação de um similar da semaglutida.
Também em abril, a farmacêutica brasileira Biomm anunciou parceria com a indiana Biocon para vender o Ozempic genérico deles, que está sendo desenvolvido, por aqui.
Epidemia da obesidade
Muita gente achou o comentário de Paes gordofóbico. No entanto, sobrepeso e obesidade são considerados como uma epidemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com estimativas do Atlas Mundial da Obesidade, 41% da população brasileira será obesa em 2035.
A endocrinologista Cynthia Valerio, diretora da Associação Brasileira para Estudos da Síndrome Metabólica e Obesidade (Abeso) no Rio de Janeiro, lembra que sobrepeso e obesidade estão associadas a várias doenças sérias e, por isso, devem ser tratadas como problemas de saúde.
“Além de prejudicarem a qualidade de vida do paciente, obesidade e sobrepeso são condições que podem levar a problemas de saúde graves. O fato de a incidência estar aumentando, nos obriga a a tratar o assunto como questão de saúde pública”, afirma Cynthia.
Sobre a promessa de distribuição de Ozempic feita por Paes, a médica considera a ideia bem-vinda, desde que dentro de um plano estruturado contra a obesidade.
“No SUS, não temos praticamente nenhuma medicação para tratamento de obesidade. A incorporação da semaglutida ou de similares seria excelente, mas teria que estar apoiada por uma linha de cuidado multiprofissional, com endocrinologista, educador físico, nutricionista e psicólogo. O remédio é apenas uma ferramenta”, destacou Cynthia.
Tratamento com Ozempic
O Ozempic não está incorporado a lista de medicações do Ministério da Saúde para distribuição no sistema único de saúde. A lista é definida pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) a partir de pedidos feitos pelas partes interessadas na utilização do medicamento.
Até aqui a incorporação do Ozempic não foi solicitada pela fabricante Novo Nordisk. A empresa solicitou à Conitec a incorporação do Saxenda, medicação semelhante que precedeu o Ozempic, mas o pedido foi rejeitado. Ainda assim, como o SUS é uma sistema tripartite, prefeitos e governadores podem decidir pela incorporação do remédio em seus territórios.
