Foi deflagrada na manhã desta segunda-feira (14/10), pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, a Operação Verum, para prender quatro pessoas no caso dos transplantes de órgãos infectados pelo HIV. Walter Vieira, sócio do PCS Lab Saleme — apontado pelo governo do RJ como responsável pelo erro —, foi preso.
Vieira é médico ginecologista e também responsável técnico do laboratório, que assinou um dos laudos com o falso negativo. Ele e seu filho, Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, também sócio do laboratório, são, respectivamente, tio e primo do deputado federal Doutor Luizinho (PP-RJ), que é ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro.
Agentes da Delegacia do Consumidor (Decon) cumprem 11 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
“As investigações indicam que os laudos, falsificados por um grupo criminoso, foram utilizados pelas equipes médicas, induzindo-as ao erro, o que levou à contaminação dos pacientes. Um dos pacientes veio a falecer, com as causas da morte ainda sob investigação”, diz a Polícia Civil.
A polícia apura se, além dos transplantes, o PCS Lab Saleme falsificou laudos em outros casos.
“Diversas diligências complementares estão sendo realizadas para identificar toda a cadeia de profissionais envolvidos nesse esquema criminoso, e todos serão prontamente responsabilizados na medida da sua respectiva culpabilidade”, detalhou.
Os envolvidos são investigados por crime contra as relações de consumo, associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e infração sanitária.
Pacientes infectados
A Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) confirmou seis casos de pacientes que receberam órgãos infectados pelo vírus HIV. A Anvisa e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) investigam a situação. Os exames de sangue dos doadores de órgãos apresentaram resultados falsos negativos para o vírus.
A situação foi descoberta no dia 10 de setembro, quando um paciente transplantado apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para HIV ao procurar atendimento no hospital.
O paciente não possuía o vírus antes de realizar o transplante. As amostras dos demais órgãos doados pela mesma pessoa foram analisadas e confirmaram outros dois casos. Há uma semana, mais um receptor de órgãos testou positivo para HIV após o transplante.
Os doadores de órgãos realizaram testes de sangue na empresa PCS Laboratórios, em Nova Iguaçu (RJ).
Testes forjados
A Anvisa contatou o laboratório responsável pelos exames e descobriu que a unidade não possuía os kits necessários para a realização dos testes de sangue, tampouco apresentava documentos que comprovassem a compra dos itens. A suspeita é que os testes não foram realizados, mas sim forjados.
O PCS foi contratado pela SES-RJ em dezembro do ano passado.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou, em nota, que criou uma comissão multidisciplinar para acolher os pacientes afetados e, imediatamente, adotou as demais providências necessárias.
Também em nota, o laboratório PCS Lab informou que abriu sindicância interna para apurar responsabilidades e que usou kits de testes recomendados pela Anvisa. Além disso, afirmou que dará suporte médico e psicológico aos pacientes infectados com HIV e às suas famílias.