A demência afeta mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo e esse número aumenta a cada 3 segundos. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS). A condição atinge 1,76 milhão brasileiros com mais de 60 anos, segundo levantamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Não à toa, o termo é destaque do relatório de buscas do Google da semana, divulgado pelo Google Trends Internacional. Pela definição do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), demência significa uma alteração cognitiva que leva a um prejuízo nas atividades funcionais e da vida diária do paciente.
O interesse de busca por demência no Google apresentou alguns picos nos últimos dois meses nos Estados Unidos e no Brasil. Além disso, em 2023, o Japão, seguido de Reino Unido e Holanda, foram os países que mais buscaram pelo assunto.
Demência pode afetar os jovens?
As buscas por “early onset dementia” (na tradução livre, “demência de início precoce”) atingiu o nível mais alto dos últimos cinco anos nos Estados Unidos. Nesse período, a apresentadora e humorista estadunidense, Wendy Williams, de 59 anos, foi diagnosticada com demência frontotemporal.
De acordo com o especialista entrevistado pelo SBT News, Flavio Augusto Sekeff, ela é uma das demências que podem afetar pacientes mais jovens.
Nesses casos, “o paciente começa a ficar mais arredio, irritado, jocoso, muda hábitos alimentares, fica menos empático, trata as pessoas de maneira indiferente, até chegar no estado de mutismo acinético”, disse o especialista.
O quadro de mutismo se caracteriza pela completa imobilidade, em que a pessoa apenas acorda, mas não consegue se mexer ou falar.
Outros exemplos de demência que podem atingir pacientes mais jovens podem ser o Alzheimer de causas genéticas, o AVC (Acidente Vascular Cerebral), hipertireoidismo grave, infecções relacionadas ao HIV, tumor e sangramento cerebral, além de alterações imunológicas.
Pico de interesse no Google Brasil veio após humorista anunciar diagnóstico
Já no Brasil, o pico de interesse pela doença foi no dia 27 de fevereiro, quando o humorista Pedro Manso, jurado do programa do Ratinho, no SBT, anunciou o diagnóstico de demência em suas redes sociais.
Manso informou que o quadro de esquecimento veio após ser diagnosticado com Covid-19. Um estudo realizado no Burdwan Medical College and Hospital, da Índia, disse que a doença pode contribuir para o avanço da demência em pacientes já diagnosticados com a condição.
Afasia, Alzheimer, Envelhecimento e TDAH: quais deles podem ter relação com a demência?
Entre as buscas relacionadas à demência estão Afasia, Alzheimer, Envelhecimento, Parkinson e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Tirando os dois últimos itens, todos os outros apresentam relações com a demência.
Pela definição de Sekeff, enquanto o Parkinson não produz alteração cognitiva para ser encarado como demência, o TDAH é um distúrbio de desenvolvimento do lobo frontal e não é adquirido ao longo da vida, como ocorre com as demências.
Afasia não é uma doença, mas um sintoma
Diferente do Alzheimer, que é considerada uma doença, a afasia é apenas um sintoma relacionado à demência. Ela se caracteriza por uma alteração da produção ou do entendimento da linguagem. “O paciente, mesmo com aparelho fonador (órgãos para produzir sons) normal, não consegue falar e entender o interlocutor”. Segundo o especialista, o sintoma costuma surgir mais precocemente na demência frontotemporal (como no caso do ator Bruce Willis) e mais tardiamente no Alzheimer. Pacientes com tumores, derrames ou traumas cranianos também podem sentir afasia.
Além disso, sintomas como alucinação, paranoia, agitação, tremedeira e comer demais foram os mais buscados. Sekeff confirma que todos eles podem estar relacionados com a condição.
Confira a relação dos sintomas com o tipo de demência
Alucinação e Paranoia – Corpos de Lewy e Alzheimer
Agitação – Alzheimer
Comer demais – Demência Frontotemporal
No entanto, Sekeff ressalta que o quadro sintomático é variável e pode ir além desses sintomas, já que o principal deles é a perda de memória, sobretudo para quadros de Alzheimer e Corpos de Lewy.
“Na demência frontotemporal, além de comer demais, por exemplo, o paciente pode ter falta de empatia, agressividade e alteração de personalidade.”
Confira as perguntas mais feitas sobre demência no Google:
O que causa a demência?
Para o especialista, não existe uma causa definida, no entanto o Alzheimer e a demência frontotemporal possuem relações mais claras com a genética do paciente. Já a de Corpos de Lewy ainda não possui uma causa genética definida. As demências se dividem em primárias, que são as mais comuns, e secundárias. No primeiro grupo, a mais comum delas é o Alzheimer, mas em menor escala ocorrem a demência frontotemporal e por Corpos de Lewy.
Demência primária
A diferença entre elas, segundo Sekeff, é que apenas o Alzheimer pode ser prevenida em alguns casos. Em todas elas acontece a perda da capacidade cognitiva desenvolvida e são mais comuns em idades mais avançadas, exceto a lesão do lobo-temporal, que afeta pacientes mais jovens.
A demência por Corpos de Lewy apresenta outros sintomas, como tremores, lentidão, rigidez, alucinações e crises de apatia que podem durar dias.
Demência secundária
Os casos mais comuns são frutos de AVC’s. Ela também é chamada de “demência vascular”, já que a repetição dos acidentes vasculares cerebrais são os responsáveis pelo quadro de demência. O neurocirurgião Carlos Roberto Massella Jr. define como “problemas de circulação sanguínea no cérebro, resultando em danos nos tecidos cerebrais.”
Depressão pode ser confundida com demência
Os quadros de “pseudodemência” são, na verdade, depressão. Em alguns casos, eles apresentam os mesmos sintomas de uma demência, mas possuem sinais de atenção que diferenciam o diagnóstico, como tristeza e melancolia, por exemplo. O diagnóstico é feito por um questionário estruturado, história clínica do paciente, além de uso consciente de antidepressivo.
Como cuidar de um paciente com demência?
Como são doenças crônicas, o tratamento se baseia em medicações para melhorar o quadro sintomático do paciente. O especialista destaca o uso de cannabidiol (nesse caso, o fitocannabinoide), que pode ajudar em quadros de Alzheimer. Ele relata que a substância apresenta potencial de melhorar memória e fazer com que os pacientes durmam melhor. Além disso, principalmente entre os idosos, é fundamental procurar programas de reabilitação cognitiva, que envolvam a saúde física e mental, como dança, pintura, coral, além de socialização e prática de exercícios corporais.