Sábado, 23 de novembro de 2024 - Email: [email protected]




O eleitor indeciso foi quem sofreu a maior derrota após o debate entre Biden e Trump

Biden teve vantagem, hesitou nas respostas e não entregou o bom desempenho esperado. Trump pareceu comedido e faltou com a verdade em muitos momentos



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Washington DC — As lideranças das duas campanhas dos partidos democrata e republicano entraram para o primeiro debate destas eleições presidenciais preocupadas.

O entorno de Joe Biden desejava reverter, ao vivo, as críticas que o presidente recebeu nas últimas semanas em relação à sua disposição física.

Os republicanos tinham receio de que Donald Trump seguisse o comportamento demonstrado quatro anos atrás e partisse para o ataque direto e pessoal a Biden, o que poderia prejudicar sua imagem em meio a tantos processos criminais e sua recente condenação em Nova York.

Ao fim, a sensação entre os republicanos foi de alívio e entre os democratas de preocupação.

Foram seis dias de preparação para Joe Biden. A agenda do presidente americano esteve sem compromissos públicos de segunda a quarta-feira e, desde o último fim de semana, o democrata esteve concentrado com os estrategistas em Camp David, a casa de campo dos presidentes dos Estados Unidos.

Esperava-se um desempenho parecido ao do discurso do Estado da União, no dia sete de março. Naquela data, Joe Biden entrou vibrante no Capitólio e entregou um discurso potente.

Segundo pessoas próximas ao presidente, nesta noite de quinta-feira, Biden estava um pouco gripado.

Joe Biden durante debate presidencial nos Estados Unidos | Reprodução

A voz rouca nem foi o principal foco da preocupação depois do evento, mas como o atual presidente deixou de aproveitar várias oportunidades para tirar vantagem da condição atual de Trump, que é o primeiro ex-presidente americano condenado criminalmente na história do país.

  • Biden hesitou. Cada candidato tinha um tempo fixo de dois minutos para responder às perguntas iniciais. O presidente que tenta a reeleição estava calmo, mas parecia, ao mesmo tempo, um pouco tenso no início, assim como seu rival, e teve dificuldades em concluir os raciocínios com o tempo, ao fim, se esgotando.
  • Donald Trump também entrou com aparente tensão e evitou contato visual com o oponente em boa parte do debate que durou uma hora e meia. Trump foi orientado pela campanha a não partir para o ataque pessoal como fez em 2020.

Há quatro anos, Trump insultou Biden repetidas vezes, o chamando de “dorminhoco”, fez acusações pesadas sobre os filhos do então candidato a presidente, inclusive citando o que já faleceu, e o nível foi bem mais baixo apesar de os dois, na última noite, terem trocado farpas.

Sim, Biden chamou Trump de otário e perdedor quando o republicano usou esses termos para se referir a Hunter Biden, e Trump disse que não entendia o que Biden disse no fim de uma frase.

“Acho que nem ele entende”, falou Trump.Mas foi um bate-boca bem menos grave do que vimos há quatro anos.

  • Ao fim, o ex-presidente que tenta voltar à Casa Branca entregou a imagem esperada por sua campanha, se esquivou totalmente das respostas mais difíceis e não foi pressionado o suficiente pelos moderadores.
  • Joe Biden saiu com a imagem de fragilidade mais latente, demonstrou indignação em muitos temas e conseguiu melhorar o desempenho a partir de um certo momento, mas não logrou tirar vantagem da condição de condenado do oponente.

Logo ao fim do evento, minha análise foi de empate técnico pelo fato de ambos não terem entregado ao eleitor a mensagem que todo o americano espera de um presidente: confiança no desempenho e credibilidade. O republicano xingou menos que o previsto, mas faltou com a verdade e fugiu das respostas dos temas mais sensíveis.

Simplesmente respondeu “B” quando lhe perguntavam “A”. Não respondeu a perguntas como ‘o que fará para combater as mudanças climáticas’ – tema essencial atualmente, quando o mundo sofre com catástrofes naturais.

 

Trump, enquanto presidente, disse repetidas vezes que o aquecimento global é uma invenção de ativistas. Ele retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris e, na última noite, não falou ao eleitor como conduzirá o tema.

Disse apenas: “quero água e ar limpos”. Evitou ao máximo responder se respeitará o resultado das eleições. Disse apenas ao fim que “se for um resultado correto e justo, vai”.

Biden tinha a oportunidade de demonstrar liderança, poder, de pressionar o oponente e evidenciar seus tantos problemas impressos em páginas de processos judiciais. Pelo cansaço, gripe ou apenas tensão, não partiu para o ataque.

Donald Trump durante debate presidencial nos EUA | Reprodução
Donald Trump durante debate presidencial nos EUA | Reprodução

Sob essa perspectiva, não houve um vencedor do debate. Um evitou falar o que realmente pensa sobre temas-chave e outro hesitou no desempenho. A maior derrota, ao fim, foi para o eleitor indeciso que já disse em pesquisas não estar satisfeito nem com um, nem com outro.

Comentaristas na última noite questionam se a campanha democrata vai pressionar Biden a renunciar à candidatura.

Essa é a única possibilidade de outro nome ser validado na convenção do partido em agosto, em Chicago.

Não é o que parece que vai acontecer. Nomes fortes do partido democrata saíram do local do debate declarando apoio total a Biden e o presidente americano demonstra foco e vontade em seguir na campanha pela reeleição.

Apenas pesquisas qualitativas nos próximos dias poderão avaliar o impacto do debate na intenção de voto do eleitor, especialmente o indeciso.

Análises e opiniões pipocam em várias partes do mundo, mas a realidade é que o futuro na política americana ainda depende de como Biden e Trump vão levar a campanha até novembro.

A segunda oportunidade para redenção de Biden será no segundo debate, no dia 10 de setembro.



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