Os números, embora esperados para o período de estiagem, acendem um alerta para possíveis quedas ainda maiores nos níveis dos reservatórios nos próximos meses. Parte do Brasil enfrenta a pior seca dos últimos 44 anos.
Atualmente, a bandeira tarifária vermelha, no patamar 1, está vigente até 30 de setembro. A bandeira para outubro deve ser divulgada no dia 27.
No ano passado, o governo havia decidido pela bandeira verde em outubro devido aos níveis mais elevados dos reservatórios em setembro. No entanto, desta vez, a conta de luz pode continuar com bandeira vermelha até o fim do ano, segundo o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa.
“Há uma grande tendência que a bandeira permaneça entre vermelha e amarela até o fim do ano. A bandeira tarifária é acionada para fazer frente aos custos futuros do sistema no próximo mês. Essa equação é bastante complexa e leva em conta muitas variáveis”, disse durante o Seminário Nacional dos Consumidores de Energia.
Com a estiagem afetando mais da metade do território nacional, o governo avalia o retorno do horário de verão, que foi extinto em 2019. Na semana passada, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, informou que o ONS recomendou essa medida por “prudência”. A questão está sendo discutida internamente com o governo e com setores que podem ser afetados pelo retorno da medida, e uma decisão deve ser anunciada nos próximos dias.
A proposta ganha força porque cerca de metade da energia consumida no Brasil vem de usinas hidrelétricas, e a falta de chuvas reduz o nível dos reservatórios. Além disso, com o aumento das temperaturas, o uso de eletrodomésticos como ar-condicionado e ventiladores cresce, pressionando ainda mais o sistema elétrico.
O estudo do ONS prevê que a economia de energia durante os horários de pico com a adoção do horário de verão seria em torno de R$ 400 milhões ao longo de todo o período, o que corresponderia a uma redução de aproximadamente 2,5 gigawatts na demanda de energia.
Bandeira vermelha é alerta
Advogada e analista de relações governamentais no setor elétrico, Fernanda Chiaradia da Silva explica que em períodos de seca e baixos níveis dos reservatórios é necessário acionar as usinas termelétricas, o que encarece a energia. A bandeira vermelha, além de refletir esse custo maior, também serve para educar o consumidor, sinalizando a necessidade de economizar e racionalizar o consumo.
“A bandeira vermelha funciona como um alerta: estamos enfrentando um problema, e o consumidor precisa reduzir o uso de energia”, ressalta.
Ela também menciona que o retorno do horário de verão pode ser uma ferramenta para influenciar o comportamento dos consumidores, ajudando a diminuir a demanda de energia nos horários de pico.
“O aumento na conta de luz está diretamente ligado aos custos de geração de energia. Com os reservatórios baixos, há maior acionamento das termelétricas, o que eleva os custos. O governo, nesse momento, tem sinalizado que quer garantir o fornecimento de energia, mesmo que isso signifique utilizar fontes mais caras”, afirma.
Nese contexto, a especialista acredita que o horário de verão pode ajudar a redistribuir a demanda em um momento crítico dos reservatórios hidrelétricos. “Sou a favor. Nesse novo cenário, o horário de verão permite que aproveitemos mais a energia eólica e solar, reduzindo a necessidade de acionar as termelétricas.”