- Cerca de 960 mil pessoas vivem com HIV hoje no país. Indivíduos 50+ representam cerca de 33% dessa população.
- HIV além do vírus: Com o envelhecimento dessa população, o olhar integral para o indivíduo é fundamental. Doenças renais e cardiovasculares são algumas das comorbidades que mais acometem essas pessoas
Quatro décadas já se passaram desde a identificação dos primeiros casos de infecção pelo HIV no Brasil. De lá para cá, grandes conquistas aconteceram. Podemos citar dois marcos que foram importantes no Brasil, hoje um dos países referência no enfrentamento do vírus: a introdução da terapia antirretroviral com distribuição gratuita pelo SUS, e o acesso aos serviços de saúde especializados para prevenção e diagnóstico. Esses marcos trouxeram benefícios para a saúde das pessoas que vivem com o vírus, permitido que elas retomem e concretizem seus projetos de vida. A partir daí, foi possível observar uma menor incidência de outras infecções e a queda de mortalidade, o que possibilitou o envelhecimento dessa população.
Doença crônica como a hipertensão e o diabetes, a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) pode ser controlada desde que o paciente siga o tratamento indicado e acompanhe a progressão da doença com frequência. Segundo o último Relatório de Monitoramento Clínico do HIV[1], estima-se que ao final de 2021 havia aproximadamente 960 mil pessoas vivendo com HIV no país, das quais 89% estavam diagnosticadas e 82% faziam o tratamento com antirretrovirais (TARV). Das pessoas em tratamento há pelo menos 6 meses, 95% atingiram supressão viral (CV inferior a 1.000 cópias/mL) e 90% estão com vírus intransmissível (CV inferior a 50 cópias/mL).
O Brasil está dentro da meta global do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre /AIDS (UNAIDS) no critério supressão viral (CV inferior a 1.000 cópias/mL), que é de 95%. Esses números mostram a importância da adesão e da continuidade do tratamento.
Envelhecimento da população com HIV
Tivemos um aumento significativo da população 50+ nas últimas décadas em todo o mundo. Dados divulgados pela UNIAIDS mostram que de 1995 a 2015 a prevalência global de HIV entre indivíduos dessa faixa etária mais que dobrou: das 36,7 milhões de pessoas com HIV em todo o mundo em 2015, 5,8 milhões (15,8%) tinham 50+. Ainda em relação a faixa etária, dados do Relatório de Monitoramento Clínico do HIV de 2021 do Ministério da Saúde mostram que, do total de pessoas vivendo com HIV no Brasil, a população 50+ representava 33% (cerca de 256 mil). Dessas, 90% estavam em TARV e 82% das que estavam em tratamento haviam atingido supressão viral.
“Hoje, a expectativa de vida das pessoas com HIV é praticamente igual a das pessoas que não vivem com o vírus. A população 50+ é uma das que mais adere aos programas de saúde e ao tratamento com antirretrovirais”, afirma o infectologista, Dr. Álvaro Furtado, médico assistente do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da HC-FMUSP e integrante da equipe do ambulatório de HIV/AIDS do CRT/Santa Cruz da Secretária de Saúde de São Paulo.
Mas mesmo com o aumento da qualidade de vida desse paciente, o envelhecimento também traz um maior risco de desenvolver comorbidades não transmissíveis associadas à idade, como hipertensão, infarto do miocárdio, doença arterial periférica e função renal. Dados de um estudo holandês mostram que em 2030, cerca de 84% dos pacientes terão 1 ou mais doença não relacionadas a aids, 28% terão 3 ou mais doenças e apenas 16% dos pacientes infectados pelo HIV não terão outras doenças.
A situação pode ser agravada em pacientes com HIV que não fazem o acompanhamento médico corretamente, indo as consultas e fazendo os exames periódicos, seja para prevenir possíveis comorbidades, identificar o aparecimento de alguma outra doença, ou monitorar a ação do próprio vírus no organismo. Um exemplo é o exame de contagem de linfócitos CD4, que são células do sistema imunológico atacadas pelo HIV. Ele pode ajudar a adotar medidas preventivas para evitar infecções oportunistas e auxiliar o médico a orientar o tratamento.
“É preciso seguir um contexto global de atenção à saúde. Os pacientes que aderem às consultas e aos exames periódicos, conseguem manter a imunidade em dia, além de evitar, ou tratar precocemente, outros problemas de saúde”, declara o especialista. Dr. Álvaro também alerta em relação a importância de adotar um estilo de vida saudável. “Dieta e exercícios físicos precisam fazer parte do dia a dia desse paciente”, finaliza.
Abordagem multidisciplinar
Os médicos e o próprio sistema de saúde precisam estar preparados para olhar integralmente para esse paciente, além de estimular a sua adesão ao tratamento. “Considerando o risco aumentado dessa população de desenvolver outras doenças, a abordagem multidisciplinar é fundamental e deve incluir também outros tipos de avaliações, como as metabólicas, pressão arterial, função renal, triagem para depressão, entre outras”, alerta Dr. Alexandre Naime Barbosa, médico infectologista e Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Estigma diante do HIV
O preconceito e a falta de acolhimento dentro e fora do sistema de saúde ainda estão muito presentes no dia a dia desse paciente. Manter segredo sobre o diagnóstico pode ter um impacto negativo na adesão ao tratamento. O contrário acontece quando o paciente consegue conversar sobre o assunto com pessoas de confiança da família ou entre seus amigos. “É preciso criar um ambiente social livre de discriminação para que o paciente se sinta bem e confiante para aderir ao tratamento e se preocupar com a sua qualidade de vida”, afirma Dr. Alexandre.
Sobre o HIV
HIV é a sigla em inglês para o Vírus da Imunodeficiência Humana, que pode causar a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids). Diferente de outros vírus, ainda não há cura para o HIV, o que significa que o paciente terá que conviver com a infecção pelo resto da vida. No entanto, é possível controlar a doença por meio da terapia antirretroviral (ART) disponível gratuitamente, que prolonga a qualidade de vida e reduz as possibilidades de transmissão.
O HIV pode ser propagado por meio de relações sexuais (vaginal, anal ou oral) desprotegidas (sem camisinha) com uma pessoa já infectada pelo vírus, pelo compartilhamento de objetos cortantes contaminados, como alicates, seringas, agulhas, entre outros, e de mãe soropositiva, sem tratamento, para o filho durante a gestação, parto ou amamentação.