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Morre Luiz Schiavon, tecladista e membro fundador do RPM

Músico fundador da banda, ao lado do cantor Paulo Ricardo, sofria de uma doença autoimune



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Schiavon (com óculos escuros pendurados) com o RPM em foto de 1988
JOSÉ BASSIT/ESTADÃO CONTEÚDO – 18.08.1988

O rock brasileiro perdeu, na madrugada desta quinta-feira (15), o tecladista Luiz Schiavon, um dos fundadores da banda RPM, ao lado de Paulo Ricardo. A informação foi confirmada pela família do músico. Ele tinha 64 anos.

Segundo a nota oficial, Schiavon “vinha lutando bravamente contra uma doença autoimune havia quatro anos. Infelizmente, teve complicações na última cirurgia de tratamento e não resistiu. Luiz era, na sua figura pública, maestro, compositor, fundador e tecladista do RPM, mas, acima de tudo isso, um bom filho, sobrinho, marido, pai e amigo. Portanto, a família decidiu que a cerimônia de despedida será reservada a familiares e amigos próximos e pede, encarecidamente, aos fãs e à imprensa que compreendam e respeitem essa decisão. Esperamos que se lembrem dele com a maestria e a energia da sua música, um legado que ele nos deixou de presente e que continuará vivo em nossos corações. Despeçam-se, ouvindo seus acordes, fazendo homenagens nas redes sociais, revistas e jornais, ou simplesmente se lembrando dele com carinho, o mesmo carinho que ele sempre teve com todos aqueles que conviveram com ele”.

RPM E ANOS 1980

Com o cantor Paulo Ricardo, Schiavon fundou o RPM em 1982. Pianista clássico, Luiz usou seu conhecimento musical para determinar o som do grupo, que tinha muito sintetizador nas canções, a exemplo de bandas inglesas da mesma época, como Duran Duran, Depeche Mode, entre outras.

Os dois músicos começaram a compor juntos com uma ideia de seguir as tendências do pop/rock inglês, com muito tecnopop, synthpop e new wave. Eles compuseram as primeiras canções da banda, que era um duo inicialmente, e criaram faixas como Rádio PirataLouras GeladasRevoluções por Minuto e Olhar 43, sempre usando muito teclado, sintetizadores e bateria eletrônica.

Logo, Paulo e Luiz decidiram que precisavam de um guitarrista, e Fernando Deluqui foi convocado para a missão. Fitas demo com as canções começaram a circular pelas gravadoras, que estavam ávidas por de bandas de rock, gênero que começava a ficar em alta no Brasil nos anos 1980. Rapidamente, o RPM passou a ser disputado por empresas como CBS e EMI. Depois de alguma negociação, Luiz e Paulo decidiram-se pela proposta da CBS e gravaram o primeiro disco, Revoluções por Minuto — lançado em 1984 —, nos estúdios da Transamérica, em São Paulo. De última hora, também colocaram na banda o baterista Paulo Pagni, o P.A., que completou a formação original do RPM.

O primeiro single, Louras Geladas, começou a tocar bastante nas rádios paulistanas e rapidamente se espalhou por outras cidades do Brasil. Seguiram-se outros hits, como Rádio PirataRevoluções por MinutoOlhar 43 e A Cruz e a Espada, todos marcados pela voz de Paulo e pelos superteclados de Schiavon, o que tornou o RPM uma banda de rock distinta de todas as outras do cenário brasileiro.

Esse primeiro álbum vendeu bem, muito acima do esperado. O RPM passou a excursionar pelo Brasil, fazendo centenas de shows superlotados, aparecendo em programas de TV e tocando sem parar nas rádios. O grupo virou uma verdadeira febre maluca e sem precedentes por aqui.

Em 1986, houve o lançamento de Rádio Pirata  Ao Vivo, com as músicas de sucesso do disco de estreia e algumas inéditas. A vendagem foi gigantesca, com mais de 2,5 milhões de cópias, um recorde.

Mas os músicos, todos ainda muito jovens na época e sem a experiência necessária, não aguentaram tamanho sucesso e pressão. Com algumas desavenças internas, o RPM anunciou o fim das atividades no início de 1987. Paulo e Luiz seguiram ainda como uma dupla, mas sem usar o nome do grupo. Rapidamente, a CBS tratou de convencer os quatro rapazes a voltar com a banda, que era um sucesso sob qualquer ponto de vista.

No retorno, a banda gravou e lançou o disco chamado RPM, que ficou conhecido como Quatro Coiotes. Saiu em 1988. Mas, com um som diferente daquele do álbum de estreia, com teclados menos aparentes, o trabalho acabou não agradando muito aos fãs e vendeu muito pouco. O fracasso provocou novamente o fim do grupo, com os integrantes saindo em carreiras solo.

VOLTAS DO RPM

Com o fim da banda, Luiz lançou uma nova banda, o Projeto S, na qual continuava usando muitos teclados, pianos e sintetizadores. Não fez muito sucesso e logo deixou de existir. Luiz passou então a se dedicar a outros trabalhos musicais e empreendimentos próprios. Fez trilha sonora para novelas, jingles para publicidade, entre outras atividades.

Em 1992, Paulo Ricardo decidiu retomar o RPM, com Deluqui. Schiavon não gostou da ideia e entrou com um processo para impedir seu ex-companheiro de usar o nome do grupo. A saída encontrada pelo cantor foi lançar o Paulo Ricardo & RPM, que produziu um disco com esse nome, mas a iniciativa teve vida curta.

Schiavon e seus companheiros de RPM numa das voltas da banda, em 2002
Schiavon e seus companheiros de RPM numa das voltas da banda, em 2002 AGLIBERTO LIMA/ESTADÃO CONTEÚDO – 27.03.2002

Uma década depois, em 2002, todos os músicos decidiram novamente trazer o RPM de volta à vida. Gravaram um disco ao vivo, o MTV RPM 2002, com todos os hits e músicas novas. O álbum vendeu bem, e o grupo saiu em turnê pelo país. Em 2004, quando estavam se preparando para lançar um disco de inéditas, houve um novo rompimento entre os integrantes, e o grupo chegou, uma vez mais, ao fim.

Depois disso, Luiz se juntou a Deluqui e ao cantor André Lazzarotto e, juntos, criaram a banda L.S.D. (iniciais de seus nomes) e gravaram um CD que foi lançado de maneira independente. O tecladista passou também a comandar a banda que tocava ao vivo no programa do Faustão, na Globo.

Post sobre a morte de Luiz Schiavon feito no perfil oficial do RPM
Post sobre a morte de Luiz Schiavon feito no perfil oficial do RPM REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Todos os integrantes do grupo seguiram, assim, seus caminhos e carreiras solo, mas, em 2010, de novo, decidiram fazer mais uma tentativa com o RPM. Assim, em 2011 lançaram o disco Elektra, com músicas novas. Seguiu-se uma longa turnê de quatro anos. Quando houve o fim desses shows, Paulo Ricardo decidiu soltar um disco solo, mas com a promessa de retornar à banda algum tempo depois, o que não aconteceu.

Luiz, Deluqui e P.A. decidiram manter o RPM ativo, processaram Paulo e o tiraram do grupo e convocaram um novo membro. Pouco tempo depois disso, em 2019, o baterista P.A. morreu, em decorrência de problemas respiratórios. Os músicos remanescentes gravaram novas músicas durante a pandemia, e há a promessa do lançamento de um álbum do grupo para este ano. Luiz fez parte dessas gravações todas.

O RPM vem fazendo alguns shows desde o fim da pandemia, mas Luiz, com problemas de saúde, participou de poucos deles. Sua última participação numa apresentação do grupo aconteceu em 22 de novembro de 2022, na cidade de São Carlos (SP). Atualmente, há um tecladista no lugar de Schiavon.

Existe, assim, material inédito gravado por Luiz para ser lançado ainda. É parte do grande legado que o músico deixa para o rock e para a música brasileira.



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