Os Estados Unidos alertaram o Irã no Conselho de Segurança das Nações Unidas nesta quarta-feira (2) contra atacá-lo ou a Israel como alvo. O secretário-geral, António Guterres, disse que o “ciclo mortal de violência retaliatória deve parar” no Oriente Médio.
“O tempo está se esgotando”, disse ele ao conselho.
O conselho de 15 membros se reuniu depois que o Irã atacou Israel com mais de cem mísseis e, também, após Israel matar o líder do Hezbollah do Líbano e iniciar um ataque terrestre contra o grupo, levantando temores de uma guerra mais ampla no Oriente Médio.
“Nossas ações foram de natureza defensiva”, disse a embaixadora da ONU Linda Thomas-Greenfield ao conselho.
“Deixe-me ser clara: o regime iraniano será responsabilizado pelas suas ações. E alertamos fortemente contra o Irã – ou os seus representantes – que não tomem medidas contra os Estados Unidos, ou outras ações contra Israel”, disse ela.
O Embaixador da França Nicolas de Riviere disse que o país quer que o Conselho de Segurança “mostre unidade e fale a uma só voz” para acalmar a situação. Thomas-Greenfield disse que o conselho deveria condenar o ataque do Irã e impor “sérias consequências” à elite do Corpo da Guarda Revolucionária do Irã pelas suas ações.
“Temos uma responsabilidade coletiva, como membros do Conselho de Segurança, de impor sanções adicionais ao Irã por apoiar o terrorismo e aprovar tantas das resoluções deste Conselho”, afirmou a embaixadora dos EUA.
Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou veementemente o ataque do Irã a Israel.
Mais cedo na quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores de Israel disse que estava impedindo Guterres de entrar no país porque não havia se manifestado de maneira contundente.
Numa carta ao Conselho de Segurança na terça-feira, o Irã justificou o seu ataque a Israel como autodefesa, ao abrigo do artigo 51 da Convenção fundadora da ONU, citando “ações agressivas” de Israel, incluindo violações da soberania do Irã.
“O Irã… em plena conformidade com o princípio da distinção ao abrigo do direito internacional humanitário, apenas atacou as instalações militares e de segurança do regime com os seus ataques de mísseis defensivos”, escreveu o Irã ao conselho.
O embaixador de Israel Danny Danon rejeitou nesta quarta-feira a alegação de legítima defesa do Irã.
“Foi um ataque calculado contra uma população civil”, disse ele aos repórteres antes da reunião do conselho. “Israel não ficará indiferente face a tal agressão. Israel responderá. A nossa resposta será decisiva e, sim, será dolorosa, mas, ao contrário do Irã, agiremos em plena conformidade com o direito internacional”.
Entenda a escala nos conflitos do Oriente Médio
O ataque com mísseis do Irã a Israel no dia 1º marcou uma nova etapa do conflito regional no Oriente Médio.
De um lado da guerra está Israel, com apoio dos Estados Unidos. Do outro, o Eixo da Resistência, que recebe apoio financeiro e militar do Irã e que conta com uma série de grupos paramilitares.
São sete frentes de conflito abertas atualmente: a República Islâmica do Irã; o Hamas, na Faixa de Gaza; o Hezbollah, no Líbano; o governo Sírio e as milícias que atuam no país; os Houthis, no Iêmen; grupos xiitas no Iraque; e diferentes organizações militantes na Cisjordânia.
Israel tem soldados em três dessas frentes: Líbano, Cisjordânia e Faixa de Gaza. Nas outras quatro, realiza bombardeios aéreos.
O Exército israelense iniciou uma “operação terrestre limitada” no Líbano no dia 30 de setembro, dias depois de Israel matar o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em um bombardeio ao quartel-general do grupo, no subúrbio de Beirute.
As Forças de Defesa de Israel afirmam que mataram praticamente toda a cadeia de comando do Hezbollah em bombardeios semelhantes realizados nas últimas semanas.
No dia 23 de setembro, o Líbano teve o dia mais mortal desde a guerra de 2006, com mais de 500 vítimas fatais.
Ao menos dois adolescentes brasileiros morreram nos ataques. O Itamaraty condenou a situação e pediu o fim das hostilidades.
Com o aumento das hostilidades, o governo brasileiro anunciou uma operação para repatriar brasileiros no Líbano.
Na Cisjordânia, os militares israelenses tentam desarticular grupos contrários à ocupação de Israel ao território palestino.
Já na Faixa de Gaza, Israel busca erradicar o Hamas, responsável pelo ataque de 7 de outubro que deixou mais de 1.200 mortos, segundo informações do governo israelense. A operação israelense matou mais de 40 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas.
O líder do Hamas, Yahya Sinwar, segue escondido em túneis na Faixa de Gaza, onde também estariam em cativeiro dezenas de israelenses sequestrados pelo Hamas.