Em entrevista ao Segundo News, o renomado delegado da Polícia Federal, de Vilhena, Flori Cordeiro de Miranda Júnior, conhecido como “destruidor de esquemas de corrupção” falou sobre seus anseios e motivações em lançar seu nome na carreira política, agora que concorre a uma vaga no cenário, como pré-candidato a Deputado Federal pela coligação Podemos.
Mesmo se mostrando modesto ao falar de si, Flori se define como uma pessoa comum, que assim como muitos, se encontra revoltado com a situação da política brasileira:
“Para quem tem um pouco de “semancol” é sempre difícil falar de si mesmo, mas eu posso dizer isso de mim: sou mais uma pessoa comum, mais um revoltado com a atual situação das coisas, como todo e qualquer brasileiro e penso ter experiência de vida e profissional, pois são 7 anos como advogado e quase 15 como delegado da polícia federal, para repercutir no congresso nacional os desejos e anseios das pessoas comuns. Em geral esses anseios são simples, mas raros. Honestidade, cumprimento da lei e conhecimento das malandragens para evitar que escape pelo ralo o dinheiro público. Aqui vai ser dinheiro com olheiro.”
Quando questionado sobre o que o motivou a entrar na carreira política, Flori reforçou sua indignação com as políticas públicas e desabafou:
“Inicialmente foi uma revolta. Acordei um belo dia e vi que havia três pré-candidatos presos pela PF em operação anticorrupção que conduzi como delegado, se apresentando como opções para representar Rondônia. Foram filmados colocando dinheiro em sacos e apareceram no Jornal Nacional. Agora querem estar no Congresso Nacional. É uma vergonha e Pior que isso foi saber depois que, como Barabás, eles têm chance de vitória. Nesse caso eu pergunto ao caro leitor: a possível eleição dessa gente é por culpa do cidadão que morre de trabalhar e não tem tempo nem de cuidar da sua família ou de pessoas como nós, com um mínimo de instrução e condições, que se acovardam em não participar do processo político?”
Agora que está prestes a “mudar de lado”, com a possibilidade de ver a política de um outro ângulo, Flori afirmou que sabe bem onde e como agir, pois conhece o Estado e as “artimanhas” dos criminosos como poucos:
“Trabalhei como chefe da delegacia de repressão a entorpecentes em Porto Velho, como chefe da Polícia Federal em Ji-Paraná e como chefe da Polícia Federal em Vilhena, onde estou atualmente…pouca gente tem o conhecimento do Estado que tenho, tanto por chefiar delegacias que cobrem todo o território rondoniense, como pelo conhecimento do funcionamento do crime por estas bandas. Fale um nome e eu lhe digo a mágica da sua riqueza, quer dizer, conheço a dinâmicas das coisas. Vou dar um exemplo de como isso pode servir e começo pela segurança. Posso afiançar que neste momento, às 21:23h do dia 10 de junho de 2022, não há nenhuma patrulha do Exército ou da Polícia Federal em toda a fronteira de Rondônia com a Bolívia, um dos maiores produtores de cocaína do mundo. É livre o trânsito de armas, drogas e contrabando. Uma festa que acaba em ressaca em São Paulo e no Rio de Janeiro. É enxugar gelo sabendo onde a geladeira está aberta, mas porque ninguém fala nisso? Porque fere o Exército e fere a PF, perde votos e coloca o candidato em uma questão que ele pode fingir que não existe. Por mim tudo bem, podem não gostar e não votar no futuro se sair uma candidatura. Volto para a profissão que tenho, que é a de delegado federal, senão tiver êxito nas eleições. Um outro exemplo é a questão de regularização de terras. Corrupção no Incra, violência no campo, invasões e paralisação da produção agropecuária (ou pelo menos o atraso da produção), são o resultado de 80% de Rondônia não ter titulação das terras. É tudo da União. Sem ser o dono da terra não há projeto de longo prazo para os produtores e são os projetos de longo prazo que trazem os maiores resultados. Mas porque ninguém fala disso? Porque é melhor dar trator e tirar foto em época de eleição. É um cultivo de pobreza e atraso para colher agradecimento e voto. Como disse, eu não me importo. Não sei se sou capaz de resolver o problema sozinho, mas vou enfrentá-lo de frente se tiver mandato.”
Como ficou conhecido por colocar vários políticos na cadeia pelo crime de corrupção, o delegado foi questionado pela reportagem se acredita que autoridades policiais sofrem preconceito no cenário político por parte dos parlamentares e sua resposta foi direta:
“Sim, sim e sim. Os motivos são óbvios, já que o condenado transfere a culpa para outra pessoa e se vitimiza. Nunca é ela, é perseguição política, etc. O remédio para isso é memória por parte da população, o que é difícil em um Estado que não tem opinião pública. Os poucos jornais independentes são pequenos. Aqui corrupto preso e gente honesta são tratados da mesma maneira e espero poder ser uma exceção.”
Relacionado ao tema da segurança pública, Flori afirmou que só resolve um problema quem conhece ele a fundo e deixou claro que este, definitivamente é “a sua praia”:
“O médico arranja o tratamento conhecendo o paciente. Assim também é com assuntos de governo, inclusive com a segurança. O eleitor tem de saber se o seu candidato tem ou não conhecimentos na área, se tem capacidade para exercer um mandato sério e vou da um exemplo do que digo. Porto Velho é hoje a sétima capital mais violenta do Brasil. Rondônia destoa no número médio no Brasil no quesito violência doméstica contra a mulher. A cocaína e o crack são baratíssimos por conta da oferta enorme que vem da Bolívia, o que facilita a compra e sua difusão entre jovens em especial. Sequestro para roubo de veículos e transferência para a Bolívia são coisas já do dia a dia da população. A polícia civil está absolutamente sem gente para trabalhar. Onde o representante da população deve começar? Pela compra de viaturas? Não, deve começar com soluções para essas emergências. Só que o eleitor não pode escolher quem diz “eu vou melhorar a segurança”, tem de perguntar se o seu representante sabe onde está se metendo. Se puder, eu vou atuar no ataque frontal aos problemas que conheço e que coloquei aqui como exemplos.”
Já voltado à problemática da saúde pública, o pré-candidato “rasgou o verbo”:
“Mais uma vez vou ir contra o que se espera de uma pré-campanha para deputado federal e vou dizer a verdade, uma verdade dolorosa e que vai me fazer, no futuro, perder votos. Mas não me importo se chegar em 2 de outubro como o mesmo Flori que começou. Vai lá: o dinheiro gasto em emendas soltas de parlamentares é uma coisa horrorosa, impede o planejamento de qualquer setor e, em especial, do setor de saúde. Separam do orçamento um dinheiro que não deveria ficar nas mãos do legislativo e o legislativo gasta em coisas soltas em suas bases eleitorais. Bonito para a reeleição, resolve o problema de algumas pessoas individualmente e vai juntado correligionários futuros, mas o fim da picada para o planejamento centralizado e eficiente que, de cara, fica sem parte dos recursos que poderia ter. Não esperem de mim o gasto solto de emendas com compras soltas de equipamentos e veículos para tirar foto. Eles são importantes no fim e pode ser que pontualmente sirvam, mas o que importa mesmo é a gerência dos recursos, é a gestão da coisa pública. Esse será o meu objetivo e veja a deputada Silvia Cristina como um exemplo disso. Ela arriscou sua reeleição centralizando quase tudo o que tinha em recursos em um projeto de longo prazo, em gestão. Acabou por revolucionar regionalmente a saúde no estado e merece os parabéns. Mas ela e nós todos sabemos que no campo político foi um chute, que se não desse certo de imediato talvez nem tivesse chances de reeleição. Hoje, no entanto, todo o estado fala que a dona Silvia é uma das grandes probabilidades de vitória eleitoral – em que pese ter um perfil de esquerda e estar aninhada no PL, partido do presidente Jair Bolsonaro.”
Quando o assunto foi o agronegócio, que movimenta a economia do país, principalmente do Estado de Rondônia, Flori fez críticas ferrenhas aos investimentos do governo e à maior feira agropecuário da região norte:
“O fundo para o café tem no orçamento do Estado cerca de R$ 152 mil/ano, para 52 municípios; o fundo do leite tem cerca de 6 milhões/ano para todos os municípios de Rondônia. Quer dizer, o café cresce sem a ajuda de ninguém e o leite está quebrando por que está abandonado. Só na Rondônia Rural Show a Secretaria de Agricultura do estado gastou cerca de 6 milhões em seis dias em uma festa onde pobre não entra e rico não paga. Vem o pessoal com propaganda forte, mas o agricultor sabe que o que estou falando é a verdade, aquilo não serve ao agricultor, serve a políticos para tirar foto. Veja o leitor que a maior feira agropecuária da américa latina, a Agrishow em Ribeirão, diz ter tido um público de 190 mil participantes. A feira de Rondônia diz ter tido 230 mil. É um faz-me rir. Os organizadores da Rural Show dizem ter movimentado 2,6 bilhões de reais. É uma fantasia ainda maior. É como se os lojistas tivessem vendido 2.600 máquinas de um milhão em seis dias! É mais do que Rondônia inteira vendeu para China durante todo o ano de 2021! É de mal gosto até defender uma coisa dessas. Onde é que estão as notas fiscais desses negócios? Ao todo a conta ficou em mais de 10 milhões de Reais de dinheiro público. É importante para o comércio, é importante uma festa assim, mas não na cacunda do pequeno agricultor. Se o governo tivesse distribuído o que gastou para os hotéis e restaurantes da região os comerciantes teriam mais lucro. Fazer uma boa festa com pouco é que seria o interessante ou tirar o dinheiro de outra secretaria, não do bolso do pequeno agricultor. Eu fui longo nisso porque a resposta da pergunta só pode surgir agora que o leitor tem uma noção do quadro geral. Com mandato a minha prioridade é estar dia e noite de olho no gasto do dinheiro, senão corre solto assim, com esses gastos em bobagem para o secretário de agricultura andar de triciclo e fazer vídeo. Vira lugar pro governo fazer propaganda enganosa e todo mundo se beneficia, menos o agricultor. É cruel até. A Emater tem um quadro envelhecido de valorosos servidores, cansados com o descaso e com uma bomba relógio na justiça que pode, de uma hora para outra, mandar quase todo mundo embora. Nisso ninguém fala porque não dá foto e aqui também é merecido uma atenção redobrada. Se o leitor é agropecuarista ele sabe bem dizer quanto tempo não vê ninguém da Emater e não por culpa dos servidores, mas por culpa dos gestores que não ligam para o que importa. Esses dois pontos, fiscalização e atenção para quadro técnico é que serão objeto de forte atenção em havendo mandato, sem dizer, é claro, da questão de regularização terras que já falei antes.”
Por fim, questionado sobre o dilema das brigas partidárias dentro das câmaras e assembleias do pais, o pré-candidato firmou que o maior problema é a inversão de funções, que coloca em risco a democracia:
“Essa briga não é nada perto da entrada da política nos tribunais. Não é questão de ataque às instituições ou a ministros individualmente, não é disso que estou falando, estou falando da transferência das competências do legislativo e do executivo para o judiciário através de ativismo judicial, o que é um assunto geral, uma tendência e não uma crítica pessoal a esse ou aquele personagem. É um assunto um pouco técnico e chato, que pouca gente tem tempo, interesse ou conhecimento técnico para entender, mas vamos lá, vamos dar um início ao tema. A democracia e o estado direito só podem existir, segundo estudiosos, onde haja a separação dos poderes. Os poderes separados existem, portanto, para garantir a democracia e o estado de direito e não o contrário. Se um desses poderes se agiganta, como vem acontecendo no Brasil e, para dizer a verdade, em muitos outros países no mundo, não é o Executivo ou o Legislativo que estamos colocando em risco, mas a democracia e o estado de direito. E onde é que isso está ocorrendo? Está acontecendo quando o judiciário, dizendo-se intérprete da constituição, está fazendo escolhas pelo povo. Isso é matéria do parlamento e é perigoso que os tribunais tomem isso para si porque transferindo a arena do congresso para a corte de justiça um dia a maioria fará seus a maioria dos juízes e a principal função da justiça estará para sempre perdida. E qual é essa função? É a função de ser impopular na defesa dos direitos e garantias fundamentais. Dou um exemplo para ser entendido. Imagine que uma religião não aceita pela maioria de um povo tenha a sua proibição colocada em plebiscito, o que dirá a maioria do povo? Que tal religião deve ser proibida. E o que dirá o Tribunal lendo a constituição? Que isso é inconstitucional e é garantida a liberdade religiosa. Mas o tribunal não poderá dizer isso se a maioria também estiver lá dentro. Daí nasce o perigo à democracia e ao estado de direito, e dos direitos e garantias fundamentais, uma das mais altas vitórias de nossa civilização, ser letra morta.”
Agradecido pelo espaço, Flori deixou o endereço de sua página no Instagram (@delegadofederalflori), para quem deseja acompanhar de perto sua caminhada política e opiniões e projetos de campanha.