Em uma troca de ataques pessoais e em tom agressivo, o presidente dos EUA, Joe Biden, e o ex-presidente Donald Trump fizeram nesta quinta-feira (27) o primeiro debate presidencial das eleições no país, que acontecem em novembro deste ano.
Em um enfrentamento com uma série de ineditismos e que durou cerca de 1h40, os dois adversários se dedicaram a criticar os governos alheios, principalmente em pontos como imigração, guerra e economia — esta foi a primeira vez que um presidente e um ex-presidente ficaram cara a cara em um debate eleitoral nos EUA.
Trump, mais assertivo apesar de uma série de afirmações falsas, disse que Biden foi o pior presidente da história. Fez menções à condenação do filho de Biden, Hunter Biden — declarado culpado em junho por mentir sobre uso de crack em um formulário ao comprar armas –, ao recorde de entrada de imigrantes nos EUA, e ao prolongamento das guerras na Ucrânia e em Israel.
Disse que, se fosse presidente, a guerra na Ucrânia nem sequer teria começado. O ex-presidente também deu uma resposta elusiva sobre se aceitará o resultado das eleições (leia mais abaixo), mas passou a maior parte do debate focado e pouco explosivo.
Já Biden investiu em tocar em pontos sensíveis para Trump, como sua condenação, mas não conseguiu rebater as informações falsas do rival — após o debate, em fala a seus apoiadores, ele afirmou que sua equipe fará uma checagem de fatos.
O presidente, que segundo fontes próximas a ele estava resfriado, acabou perdendo o embate, segundo avaliação da imprensa local e de analistas.
Neste ano, a rede norte-americana CNN, que realiza o debate, também impôs regras pela primeira vez (leia mais abaixo).
As eleições para presidente nos Estados Unidos acontecem em 5 de novembro. Joe Biden tenta a reeleição, enquanto Donald Trump quer voltar à Casa Branca — ele presidiu os EUA de 2017 a 2021 e perdeu as últimas eleições para Biden.
As pesquisas de opinião mais recentes mostram uma ligeira vantagem para Trump.
Veja, abaixo, alguns dos principais pontos do debate:
Economia
O debate começou com um tema sensível para Biden: a inflação. Um dos moderadores questionou o presidente sobre o que ele tem a dizer a eleitores que sentem que a economia piorou na comparação com a gestão de Trump.
O presidente respondeu brevemente com o argumento de que o mundo pós-pandemia prejudicou a economia em diversos países e já partiu para atacar seu adversário, a quem acusou de causar uma situação de “caos” na economia.
Trump rebateu e acusou Biden de apenas favorecer economicamente imigrantes ilegais. “Os únicos empregos que ele criou foram para imigrantes ilegais”, disse o ex-presidente, que repetiu também o discurso de que imigrantes que entram nos EUA de forma ilegal são “terroristas que estão vivendo em hotéis de luxo de Nova York” e acusou Biden de “simplesmente deixá-los entrar”.
Biden, no debate, voltou a prometer reeditar a lei que garantia o direito nacional ao aborto nos EUA, a chamada Roe contra Wade, derrubada em 2022 pela Suprema Corte do país.
‘Otário e perdedor’
Biden, que começou o debate em temperatura morna, subiu o tom ao chamar Trump de “otário” e “perdedor”.
O presidente acusou o adversário de já ter chamado veteranos de guerra de “otários e perdedores” e, ao falar de seu filho Beau Biden, que lutou no Iraque e morreu de câncer no cérebro em 2015, disse a Trump:
“Meu filho não é otário. Você é um otário e um perdedor”.
Trump exigiu um pedido de desculpas.
Ataques pessoais
Performance de Biden foi ‘catastrófica’, diz Guga Chacra https://t.co/V8u1ePIJtQ
— O Minuto Notícia (@salimlocutor) June 28, 2024
Os dois candidatos também investiram em uma série de ataques pessoais ao longo do debate — o que não costumava ser a estratégia de Biden em debates nas últimas eleições.
Joe Biden chamou Donald Trump de criminoso condenado e o acusou de fazer sexo com a ex-atriz pornô Stormy Daniels — pivô do processo em que Trump foi condenado em maio — enquanto sua então esposa estava grávida. O adversário negou.
Aborto
Como esperado, o tema do aborto entrou na pauta do debate. Joe Biden voltou a prometer restaurar, caso reeleito, a lei que garantia o acesso universal ao aborto nos EUA, a chamada Roe contra Wade, derrubata pela Suprema Corte dos EUA em 2022.
Não especificou, no entanto, como fará isso — é provável que ele enfrente forte resistência da ala conservadora do Congresso.
Já Trump garantiu que não proibirá o acesso às pílulas abortivas, mas acusou Biden a incentivar “abortos que são feitos aos nove meses de gestação”.
Resultado das eleições
Questionado sobre se aceitará resultado das eleições, Trump — que é julgado por tentar reverter o resultado do pleito de 2020 — tentou desviar da questão por duas vezes. Pressionado pela apresentadora do debate uma terceira vez, respondeu então que, “sem dúvida, vou aceitar o resultado das eleições se o resultado for justo e legal”.
Biden, ao receber o direito de fala, disse duvidar de que Trump aceitaria esse resultado, “porque você um reclamão”.
‘Um palestino ruim’
Ao debater a guerra em Israel, Trump acusou Biden de não ter pulso firme na guerra entre Israel e Hamas e chamou o presidente de um “palestino ruim”.
Trump disse ainda que vai terminar a guerra na Ucrânia antes mesmo de tomar posse, caso eleito.
Idade
A questão da idade do presidente, de 81 anos, foi também explorada por Trump, que já vinha investindo no argumento de que Biden sofre de lapsos de memória, o que o presidente nega. Biden e Trump, de 78 anos, são também os dois candidatos à presidência dos EUA mais velhos da história do país.
No bloco final do debate, os candidatos foram questionados pelos apresentadores sobre o que diriam a eleitores preocupados com a capacidade de governar com o passar dos anos.
A resposta de ambos foi um dos poucos momentos cômicos do debate.
Biden foi breve e disse que “este cara tem só três anos a menos que eu, e é muito menos competente”.
Em resposta, Biden disse que aceitaria jogar “se você não conseguir carregar sua bolsa (de tacos de golfe”.
Os dois, então, travaram uma disputa sobre quem tem melhor “handicap” (avaliação do nível de um jogador), até serem interrompidos pelos apresentadores.
Reedição de 2020
O tom agressivo do debate desta noite reeditou os históricos enfrentamentos travados por Biden e Trump em 2020, quando os dois também concorreram à presidência.
Em debates daquele ano, os dois adversários protagonizaram longos bate-bocas. O ex-presidente republicano interrompeu diversas vezes o democrata, que chegou a mandar o adversário “calar a boca”.
Biden, que venceu o pleito na ocasião, seguiu a estratégia de tentar descredibilizar o adversário e suas falas, ignorando Trump e falando diretamente para as câmeras.
Regras
Neste ano, a organização do debate estabeleceu uma série de regras para tentar evitar interrupções e que os candidatos falem fora de hora, além da interferência de terceiros. Entre elas, estão:
- Microfones desligados — pela 1ª vez, o debate entre candidatos dos EUA terá microfones silenciados enquanto o adversário tiver a palavra;
- Sem acessórios — os candidatos não poderão levar papéis, pastas ou qualquer outro acessório para auxiliá-los no debate;
- Também não haverá público nem jornalistas. Apenas os dois moderadores estarão no auditório;
- Haverá dois intervalos comerciais, e, nesses momentos, os candidatos não poderão ter nenhum contato com assessores.