O paranaense Antônio Hashitani, de 25 anos, que morreu em combate na guerra na Ucrânia na semana passada, “não tinha medo de morrer”. Foi o que contou ao R7 o advogado Matheus David, natural de Araucária, na região metropolitana de Curitiba (PR). Os dois se conheceram há cerca de quatro meses, na cidade de Ternopil, no oeste da Ucrânia, e se tornaram amigos. Ambos foram ao país para atuar na guerra como voluntários em apoio ao povo ucraniano.
“Desde então, mantivemos uma amizade e conversávamos quase todos os dias. Trocamos ideia um dia antes de ele morrer. Estávamos juntos no batalhão”, relata.
Hashitani era estudante de medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), em Curitiba, mas havia trancado a matrícula no terceiro ano de faculdade para participar de projetos humanitários na África. Segundo David, ele sonhava em construir uma escola em uma comunidade pobre na Tanzânia, e acreditava que este era o jeito mais rápido de angariar fundos para a iniciativa. Ele descreve o amigo como um homem de “coração gigante”, carismático e querido por todos.
“A morte dele foi um baque para muitos, não só aqui no batalhão, mas para muitas pessoas com quem ele tinha amizade em Kiev [capital da Ucrânia], Ternopil e outros lugares por onde passou. Até mesmo funcionários de um hotel onde nos hospedamos entraram em contato para saber se ele tinha morrido”, afirma.
“Antônio era um cara incrível e estava sempre disposto a ajudar. O mundo seria um lugar melhor se houvesse mais pessoas como ele”, acrescenta.
Enquanto Hashitani dizia, com naturalidade, que “todos iriam morrer um dia”, David vai contramão. Depois do incidente, o voluntário passou a se sentir bastante inseguro em meio à guerra e decidiu voltar para casa e ficar com a família. Ele está com as passagens compradas e deve retornar ao Brasil no dia 28 deste mês.
Atualmente, David está em Bakmut, uma das maiores e mais violentas linhas de frente da guerra, a qual descreve como um “moedor de carne”. Ele afirmou que os ucranianos vêm sofrendo muito com os reflexos da guerra, e que a tendência é a situação se agravar drasticamente.
Em nota enviada ao R7, o Ministério das Relações Exteriores informou que a embaixada de Kiev notificou a morte de Hashitani e que o órgão brasileiro “está em contato com familiares” do voluntário “para prestar-lhes a assistência cabível”. Informações sobre o translado do corpo não foram fornecidas e só “poderão ser repassadas mediante autorização dos familiares diretos”.
Hashitani foi o quarto voluntário brasileiro a morrer em combate na guerra na Ucrânia em mais de 500 dias de conflito. Desde fevereiro de 2022, outros três brasileiros perderam a vida: André Luiz Hack Bahi, de 43 anos; Douglas Búrigo, de 40; e Thalita do Valle, de 39.