Brasília (05/09/2024) – A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) participou, na quarta (4), do Exame SuperAgro 2024, que reuniu em Cuiabá (MT) especialistas e autoridades para debater os principais temas em evidência relacionados ao setor.
O consultor de meio ambiente da CNA, Rodrigo Justus, participou do painel sobre o tema “Como as mudanças climáticas já afetam o agronegócio”. Já o coordenador de inteligência comercial e defesa de interesses da CNA, Felipe Spaniol, esteve no debate sobre “Agronegócio e a geopolítica: Segurança alimentar como pauta brasileira no mundo”.
Rodrigo Justus afirmou que, se por um lado o Brasil está preparado para as mudanças climáticas, por outro, precisa investir para melhorar a previsibilidade climática e em ações de mitigação.
“Estamos preparados porque desenvolvemos a agricultura tropical que permitiu a nossa produtividade crescer, mas produtividade não é eterna”, disse. “O Brasil precisa melhorar o rastreamento do clima e ampliar o acesso ao crédito e ao seguro rural. Atualmente, apenas 20% da área produtiva brasileira é coberta por seguro.”
Para o consultor, o agro depende do governo e a sociedade depende da atividade, mas sozinho o setor não consegue garantir a saúde da atividade rural. Ele citou alguns mecanismos que podem contribuir para que o setor lide melhor com as mudanças climáticas, como o fundo de catástrofe, criado em 2010.
“Na parte da tecnologia estamos bem como país, somos modelo. Modelo pensado na escassez, como o milho safrinha, por exemplo. Temos um leque de alternativas para lidar com as mudanças climáticas, mas o Brasil precisa exercer o desenvolvimento do fundo de catástrofe e melhorar outras questões como a assistência técnica e extensão rural.”
Rodrigo Justus disse ainda que o Brasil é reconhecido mundialmente pelo desenvolvimento da agricultura tropical, mas é preciso fazer agendas estruturantes para garantir segurança alimentar e renda ao produtor.
Além disso, o consultor acredita que é necessária uma conjugação entre as entidades privadas e o governo para “blindar o setor de forma que estejamos preparados para algo pior do que estamos passando.”
Segurança alimentar – O coordenador de inteligência comercial e defesa de interesses da CNA, Felipe Spaniol, foi um dos expositores no painel sobre o tema “Agronegócio e a geopolítica: Segurança alimentar como pauta brasileira no mundo”. Em sua fala, ele abordou os desafios e a importância do Brasil no papel de fornecer comida ao mundo em um cenário de fome e mudanças climáticas.
Spaniol mencionou que na Ásia e na África há uma concentração de 92% de um total de 800 milhões de pessoas subnutridas no mundo, o que reforça o papel do agro brasileiro para produzir mais e de maneira mais sustentável. “Quando ouço dizer em discussões internacionais que é necessário reduzir a produção é uma afronta porque isso é deixar de lado a segurança alimentar”, ressaltou.
Neste contexto, ele mencionou alguns desafios como a adoção de barreiras não tarifárias disfarçadas de protecionismo comercial com o intuito de limitar as exportações e tirar a competitividade de países como o Brasil, além dos subsídios agrícolas que distorcem o mercado, altas tarifas e uma baixa rede de acordos comerciais do Mercosul.
Outra iniciativa lembrada pelo coordenador diz respeito à legislação ambiental europeia, por meio de medidas como o Green Deal (pacto verde) e mais recentemente a EUDR (lei antidesmatamento). “São medidas dentro de uma ótica europeia, que desmatou seu território para alcançar seu atual patamar de desenvolvimento e tentam colocar dificuldades em países que preservam sua vegetação nativa como o Brasil”.
Por fim, ele ressaltou que acontecimentos como a pandemia, o conflito entre Rússia e Ucrânia e a guerra comercial entre Estados Unidos e China estão reorganizando as cadeias globais de valor e exigindo uma reorganização do modelo produtivo, o que representa uma boa oportunidade para o Brasil. “Não é à toa que crescemos nos últimos anos imensamente, tanto na produção quanto na exportação”.