O Brasil registrou 1.522.338 casos prováveis de dengue até agosto de 2023, o último balanço do Ministério da Saúde. O número é quase 10% maior que o registrado durante todo o ano passado, quando a pasta contabilizou 1.393.684 casos prováveis.
Segundo a pesquisadora do InfoDengue da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Sara Oliveira, o aumento se deu pelas mudanças climáticas.
“A gente tem uma mudança no regime de chuvas, um aumento da temperatura que também explica a expansão do mosquito para áreas onde não haviam casos registrados há alguns anos. Um exemplo clássico disso é o que está acontecendo na expansão para a Região Sul, que até pouco tempo atrás a gente não via, principalmente em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, um volume de casos expressivos.”
O número de casos prováveis em 2023 se assemelha ao registrado em 2019, período pré-pandemia de Covid-19, quando a pasta contabilizou 1.545.462 possíveis contaminados. Já na pandemia, foram notificados 948.533 casos em 2020 e 531.922 em 2021. Sara Oliveira explica que, além da ciclicidade da doença — que tende a se repetir a cada 2 ou 3 anos —, o isolamento social também contribuiu para a queda de casos nesse período.
“As pessoas voltaram a se movimentar, o que não estava acontecendo nos anos de pandemia. Então com o aumento da circulação de pessoas, a gente vê também o aumento da circulação do vírus, porque ele depende de pessoas infectadas circulando, que tenham sido expostas ao mosquito. Os mosquitos picam essas pessoas, se infectam, e passam a infectar outras pessoas.”
Confira o número de casos no seu estado
Em 2023, a região com maior circulação do vírus da dengue é o Sudeste, com 869.811 casos prováveis, seguido pelo Sul com 379.754; Centro-Oeste com 150.848; Nordeste com 92.354 e Norte com 29.571.
A pesquisadora da Fiocruz destaca que, apesar da Região Sudeste liderar com o maior número absoluto de casos, a Região Sul está na frente com a maior quantidade por habitantes.
“A Região Sul, muito embora tenha uma população menor, ela está proporcionalmente com mais número de casos por habitante. A gente tem uma população inteira de suscetíveis em grande parte dos estados do Sul, que ainda não haviam tido contato [com o vírus]. Não é o caso do Paraná, que já vem tendo casos há algum tempo. Mas, por exemplo, em Santa Catarina, a gente viu um aumento expressivo nos últimos 3 anos. A região do Rio Grande do Sul também. Então com essa inteira população de suscetíveis à mercê do vírus, é esperado que aconteça um número maior de casos.”
Diagnóstico e prevenção
Segundo Sara Oliveira, os principais sintomas da dengue são febre alta (acima de 38,5°C); fortes dores musculares; dor de cabeça e ao movimentar os olhos; falta de apetite; mal-estar geral e manchas vermelhas pelo corpo.
“A dengue pode ter uma manifestação mais grave, que a gente chama de dengue com sinais de alarme. Quais são esses sinais de alarme? Sangramento em mucosa e uma dor abdominal mais intensa. E quando a pessoa tem esses sintomas, mais do que nunca ela deve procurar um serviço de saúde”, alerta.
A principal recomendação das autoridades de saúde para prevenir a dengue é combater a proliferação do mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti: eliminar água parada, tampar os reservatórios e manter os quintais sempre limpos. Outra orientação para se proteger das picadas do mosquito é o uso de repelentes e telas em portas e janelas.
A infectologista Joana D’arc alerta que o trabalho de conscientização e de prevenção da doença deve ser contínuo. “É um trabalho ininterrupto, porque se eu faço toda a coleta adequada dos resíduos, a fiscalização na época de seca, se fiscalizo os terrenos onde tem a possibilidade de proliferação do vetor, se as medidas de vigilância funcionam na seca, na chuva a gente não vai ter dengue. Então esse monitoramento é permanente”.
Atualmente existem vacinas contra a dengue aprovadas pela Anvisa, como a Dengvaxia e a Qdenga. No entanto, elas ainda não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
Congresso E-Vigilância 2023
Nos dias 7 e 8 de dezembro acontecerá o Congresso E-Vigilância 2023, no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ). O evento é organizado por uma comissão composta por cientistas da Fiocruz, Cefet, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entre outras instituições de ensino e pesquisa.
Entre os temas, os congressistas vão tratar sobre as inovações no monitoramento de arboviroses como dengue, zika e chikungunya. O objetivo é reunir e fortalecer a comunidade científica, como afirma a pesquisadora da Fiocruz Sara Oliveira.
“Vão ter diversos pesquisadores de diversas áreas relacionadas às doenças transmissíveis; vamos ter profissionais de saúde das áreas, estudantes, pesquisadores, pessoas ligadas às Secretarias de Vigilância Sanitária. Então é uma oportunidade única de aumentar e compartilhar esse conhecimento no monitoramento dessas doenças.”