As complexidades das relações internacionais, seja diplomáticas ou comerciais, envolvem um equilíbrio delicado entre os interesses dos eleitores domésticos e as demandas dos consumidores estrangeiros. O setor agrícola brasileiro, que mantém negociações com mais de 160 países, enfrenta desafios significativos ao tentar compreender, adaptar-se e conciliar as diversas dinâmicas dessas interações globais.
“A competitividade da agropecuária brasileira assusta produtores rurais em muitos cantos do mundo. E eles se defendem como podem. Se não é possível ter a escala, o clima e outras condições de ampliar sua própria produtividade, escoram-se na pressão sobre seus governos para que reforcem as barreiras de proteção de seus mercados.
Tratores nas ruas e bloqueios nas estradas europeias, nas últimas semanas, são parte desse jogo de interesses muitas vezes não declarados. No início desta semana, a Comissão Europeia cedeu à pressão de agricultores de vários países do bloco, que fizeram protestos ruidosos contra imposições ambientais que lhes haviam sido impostas internamente”, comenta Aline Locks, CEO Produzindo Certo.
O setor agrícola brasileiro, ao expandir suas exportações para a Europa, enfrenta resistência de produtores locais devido às exigências governamentais, como a redução no uso de fertilizantes e pesticidas, além da necessidade de restaurar áreas florestais. Essas demandas dificultam a competição de produtos estrangeiros. Além disso, os produtores europeus percebem que um acordo comercial com o Mercosul evidenciaria a ineficiência do modelo produtivo europeu em comparação ao brasileiro.
“Com eleições para o Parlamento Europeu à vista, os tratoraços passaram a ser um incômodo político importante para os governantes, que se viram sem alternativa a não ser ceder. Relaxadas as demandas ambientais locais e ampliados os benefícios aos produtores, faltava apenas subir o tom contra os “parceiros” do Sul.
O presidente francês, Emmanuel Macron, tornou-se voz ativa contra o acordo com o Mercosul e não é de se espantar que barreiras ambientais, que já haviam sido alvo de intensas negociações, voltem à mesa.
O princípio da isonomia, tão frequentemente citado nas negociações diplomáticas, não vale, assim, nessa conversa. Esperar que os europeus tratariam nossos produtores como tratam os deles e relaxassem também as exigências em torno da rastreabilidade da nossa produção, por exemplo, seria uma grande ilusão”, conclui.
Fonte: AGROLINK –Leonardo Gottems