São Paulo — O crescimento do influencer Pablo Marçal (PRTB) nas pesquisas de intenção de voto à Prefeitura da capital vai testar a fidelidade dos eleitores de direita ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que apoia a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Desde quando iniciou sua pré-campanha, Marçal tem se apresentado como o legítimo representante do bolsonarismo na eleição da maior cidade do país, apesar da aliança feita por Bolsonaro, que indicou o vice na chapa do emedebista.
Agora, diante da ameaça concreta do influencer, que cresceu sete pontos percentuais em duas semanas na pesquisa Datafolha, ultrapassando Nunes, a campanha do prefeito aposta na influência de Bolsonaro sobre o eleitorado conservador para tentar conter a ascensão de Marçal.
O ex-coach tem se vendido como um “outsider” na política, que luta contra o “sistema”, e concorre por um partido pequeno, assim como Bolsonaro há seis anos, quando disputou — e venceu — a eleição presidencial. Além disso, Marçal tem explorado com êxito a mesma linguagem de sucesso nas redes sociais usada pelo ex-presidente na campanha de 2018.
Na campanha em São Paulo deste ano, contudo, Bolsonaro é um representante do “establishment”, e embarcou com o presidente do seu partido, Valdemar Costa Neto, na coligação de 12 legendas que apoiam a reeleição de Nunes, alegando uma aliança estratégica para derrotar a esquerda, representada pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSol), candidato apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A pesquisa Datafolha divulgada nessa quinta-feira (22/8) trouxe Boulos em primeiro, com 23% das intenções de voto, mas o grande destaque foi a subida de Marçal, que passou de 14% para 21% no intervalo de duas semanas, enquanto Nunes caiu de 23% para 19%.
Marçal vinha explorando a proximidade com Bolsonaro para tentar fisgar o eleitorado de direita na capital. Na semana passada, um elogio do ex-presidente ao influencer turbinou essa estratégia, levando Nunes e seu vice, Coronel Mello Araújo (PL), indicado por Bolsonaro, a pedirem ajuda ao ex-presidente para desfazer essa imagem.
Naquela ocasião, Bolsonaro havia chamado Marçal de “inteligente”, que “tem suas virtudes”, em entrevista a uma rádio do Rio Grande do Norte, no último dia 15 de agosto. Na conversa, ele disse ainda que Nunes “não era o candidato dos seus sonhos”.
Na última segunda-feira (19/8), enquanto os pesquisadores do Datafolha estavam nas ruas entrevistando eleitores, Bolsonaro distribuiu um vídeo a aliados no qual defende a aliança com Nunes e pede votos ao prefeito. A gravação logo ganhou as redes e o noticiário.
Nos dias seguintes, Marçal e o clã Bolsonaro começaram a trocar farpas publicamente, com resgate de declarações antigas do influencer criticando o ex-presidente.
Nessa quinta, com a temperatura elevada, e pouco antes da divulgação do Datafolha, Bolsonaro deu uma entrevista ao colunista Paulo Cappelli, do Metrópoles, oficializando a ruptura e dizendo que Marçal “não tem caráter”.
Todos os gestos mostram que Bolsonaro decidiu entrar em campo pela reeleição de Nunes diante do crescimento de Marçal, que passou a ser visto como uma ameaça, inclusive, para o ex-presidente no futuro.
Aliados de Bolsonaro, como o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten, afirmam que o impacto da ação do ex-presidente só poderá ser medido nas próximas pesquisas. Integrantes da campanha de Nunes também apostam que a fala dura de Bolsonaro contra Marçal impeça a migração de eleitores bolsonaristas para a candidatura do influencer.
Já a campanha de Marçal tem dito que o eleitorado de direita não seguirá a orientação de Bolsonaro na campanha paulistana, o que faz do pleito de São Paulo um grande teste de fidelidade dos eleitores conservadores ao ex-presidente.