Comer mais de 500 calorias por dia de alimentos ultraprocessados – como hambúrgueres, salgadinhos, pizzas congeladas e biscoitos embalados – é associado a uma queda mais rápida das funções cognitivas, aponta um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) com quase 11 mil brasileiros.
Isso equivale aproximadamente a duas roscas ou meia pizza congelada, dependendo da marca escolhida.
A pesquisa, realizada com 10.775 homens e mulheres no Brasil, concluiu que pessoas que comeram mais alimentos ultraprocessados tiveram um ritmo de declínio cognitivo global 28% mais rápido do que as que comeram uma menor quantidade desses alimentos ao longo de um período de oito anos.
A ingestão de alimentos ultraprocessados nos EUA e no Reino Unido corresponde a mais de 50% da dieta alimentar de muitas pessoas, e o estudo – publicado na revista médica JAMA Neurology – indica as consequências negativas do consumo em excesso desses tipos de alimentos para a saúde.
Dieta alimentar é apenas um fator na saúde cognitiva
No entanto, especialistas foram rápidos em apontar que as evidências não são tão claras.
“O estudo fornece apenas uma associação entre a ingestão de alimentos ultraprocessados e o declínio cognitivo”, disse Duane Mellor, nutricionista da Aston University, no Reino Unido, que não participou da pesquisa.
“O problema é que se tratam de dados empíricos, então há apenas evidências de associação – e não de causalidade”, acrescentou.
Mellor afirmou que os pesquisadores já têm muitos conhecimentos sobre o impacto negativo de alimentos ultraprocessados na saúde das pessoas. No entanto, ele disse que é difícil dizer se esses alimentos são piores do que dietas com alto teor de gordura adicionada, sal e açúcar.
Especialistas também dizem que o estudo não considera outros fatores que contribuem para o declínio da saúde cognitiva.
“Pode ser mais o caso de que eles [pessoas com dietas ricas em alimentos ultraprocessados] estavam comendo menos alimentos [saudáveis], como vegetais, frutas, nozes, sementes e leguminosas”, disse Mellor.
A saúde cognitiva é uma questão complexa, e seu declínio pode ocorrer devido a muitos fatores além da dieta alimentar, como sedentarismo, tabagismo, álcool e doenças cardiovasculares e metabólicas – e o estudo não incluiu esses fatores em suas análises.
“Isso torna praticamente impossível tirar quaisquer conclusões [a partir dos dados apresentados pela pesquisa]”, disse Gunter Kuhnle, professor de nutrição e ciência alimentar da Universidade de Reading, no Reino Unido.
Alimentos não saudáveis causam problemas de saúde
Críticas sobre estudos específicos à parte, pesquisadores de medicina e nutrição como Mellor concordam que dieta alimentar e nutrição são dois dos maiores fatores de risco atualmente para a saúde das pessoas em todo o mundo. Evidências mostram claramente que a obesidade é atualmente um problema maior do que a fome mundial.
Alimentos ricos em gordura, açúcar e sal – ultraprocessados ou não – estão ligados a muitos problemas: obesidade, doenças cardiovasculares, câncer e aumento da mortalidade por todas as causas.
Um relatório recente do Painel Global sobre Agricultura e Sistemas Alimentares para a Nutrição – um grupo independente de especialistas em nutrição e saúde – sugere que países em desenvolvimento, onde a venda de alimentos processados está crescendo a taxas mais rápidas, estão particularmente em risco nos próximos anos.
De acordo com o relatório, mais de 3 bilhões de pessoas não têm acesso a uma dieta alimentar saudável, causando má nutrição.
O que fazer para ter uma dieta saudável?
Nunca é tarde para começar a comer alimentos saudáveis. Estudos mostram que padrões alimentares saudáveis, como os da região do Mediterrâneo, ajudam a reduzir o declínio cognitivo e o risco de doenças cardiovasculares.
A dieta mediterrânea enfatiza a ingestão de alimentos frescos e a redução de alimentos ricos em gorduras processadas, açúcares e sal.
“Tente desfrutar [de preferência com outras pessoas] de uma dieta simples e variada baseada em vegetais, nozes, leguminosas, sementes, frutas e grãos integrais e, se for o seu caso, de quantidades moderadas de laticínios e carnes não processadas”, afirmou Mellor.