Na terceira tentativa, o foguete Ariane 6, da ESA (Agência Espacial Europeia), foi lançado às 16h04 (de Brasília) desta terça-feira (8) do Centro Espacial da Guiana Francesa, em Kourou. O sucesso do veículo, operado pela empresa Arianespace, representa o retorno da capacidade operacional europeia no serviço espacial.
Planejado para ser lançado em 2020, o foguete sofreu uma série de contratempos ao longo de seu desenvolvimento, como problemas técnicos, paralisação durante a pandemia de Covid-19 e mudanças no projeto. Após novo adiamento em 2023, a missão deu certo desta vez.
O Ariane 6 também confirma a aposentadoria de seu predecessor, o Ariane 5, que fez seu último voo no ano passado e foi responsável por 117 lançamentos entre 1996 e 2023, com cinco falhas.
A versão do foguete que foi ao espaço nesta terça, chamada Ariane 62, possui dois propulsores auxiliares de propelente sólido e é capaz de levar até 10,3 toneladas a uma órbita terrestre baixa. O foguete ainda possui uma versão mais potente, o Ariane 64, que no futuro poderá levar à órbita até 21,6 toneladas, capacidade apenas ligeiramente maior que a do Ariane 5.
Como se trata de um teste, o lançador transporta neste voo apenas satélites e experimentos de pequeno porte, produzidos por várias agências espaciais, universidades e empresas.
O Ariane 6 já tem 30 voos contratados, 18 dos quais para a gigante Amazon, que planeja a constelação de satélites de telecomunicação Kuiper para competir com a Starlink, da SpaceX.
O plano, caso tudo dê certo, é passar cinco meses analisando os dados do primeiro voo e então realizar o primeiro lançamento comercial, no fim do ano. Para 2025, a Arianespace espera conduzir seis voos, depois oito em 2026, dez em 2027 e então atingir a cadência de nove anuais em 2028 e 2029.
O primeiro estágio do novo Ariane 6 conta com uma versão aprimorada do motor Vulcain, usado no Ariane 5. Movido a hidrogênio e oxigênio líquidos, ele já tem uma longa história de sucesso.
Quanto aos propulsores auxiliares de propelente sólido, eles são essencialmente os mesmos já usados no foguete Vega-C, veículo fabricado pela empresa italiana Avio destinado a lançamentos de pequeno porte.
Já o segundo estágio é o que traz as maiores novidades, com um novo motor, chamado Vinci, também movido a hidrogênio e oxigênio líquidos, capaz de se reacender diversas vezes, facilitando a entrega de satélites em órbitas diferentes durante uma mesma missão.
Com desenvolvimento iniciado em 2014, o atraso do Ariane 6 obrigou a ESA a transferir o lançamento de seu telescópio espacial Euclid para um Falcon 9, da SpaceX, no ano passado, e fazer o mesmo com seu satélite EarthCARE, em maio deste ano.
O principal objetivo do novo lançador era restabelecer a capacidade perdida com a Ariane 5, mas custando consideravelmente menos que seu antecessor -a meta é uma redução de 40% no custo. Um voo do Ariane 5 custava por volta de US$ 175 milhões.
A pegadinha é que o programa também envolve um subsídio fornecido pela ESA para as operações do veículo, de até US$ 365 milhões anuais, para preservar a autonomia europeia para lançamentos espaciais.
Uma escolha controversa no design do lançador foi descartar qualquer perspectiva de reutilização, indo na contramão do que tem feito a SpaceX. A empresa americana no momento domina o mercado de lançamentos comerciais com seus foguetes Falcon 9 e Falcon Heavy, ambos com capacidade de recuperação e reuso do primeiro estágio. Adiante, a companhia espera passar seus voos ao Starship, que seria totalmente reutilizável.
Segundo a ESA, esse esforço é desnecessário no momento pela demanda limitada de lançamentos de grande porte. O plano é atingir um ritmo de nove lançamentos por ano, dos quais quatro serão institucionais (ou seja, lançarão espaçonaves e satélites da própria ESA e parceiros) e cinco serão comerciais (levando satélites de outros clientes). Para essa escala de operações, o ganho obtido por reutilização seria pouco relevante, segundo a agência.